Uma equipa de investigadores portugueses está a desenvolver uma vacina única com potencial para evitar o cancro do estômago e outras patologias gástricas como é o caso das úlceras.
Uma equipa de investigadores portugueses está a desenvolver uma vacina única com potencial para evitar o cancro do estômago e outras patologias gástricas. O objetivo é responder à elevada necessidade de prevenir e tratar infeções causadas pela bactéria Helicobacter pylori, que afeta cerca de 50% da população mundial e é a principal causa destas doenças.
por CATARINA FERREIRA
O projeto arrancou em 2006, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, nascendo graças a uma colaboração entre a Faculdade de Engenharia da Universidade Católica Portuguesa (FEUCP) e a Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa (FFUL).
Em entrevista ao Boas Notícias, Cecília Calado, professora da FEUCP envolvida na investigação, afirma que, a concretizar-se, “a vacina seria uma forma muito mais barata, eficiente e eficaz de prevenir e tratar a infeção” pela bactéria H. pylori, “evitando, assim, a grande maioria das úlceras e do cancro do estômago”.
Uma terapia deste tipo tem sido “muito desejada a nível mundial”, salienta a docente. Para já não existe qualquer vacina comercial com o mesmo propósito na Europa e nos EUA, existindo apenas uma idêntica na China “que falha em 30% dos casos”, adianta Cecília Calado, acrescentando que está também “em testes clínicos uma vacina da Novartis que, no entanto, não abrange tantas estirpes” como a proposta em causa.
A “grande dificuldade associada ao desenvolvimento de uma vacina destas” é, aliás, conforme esclarece a investigadora, a existência de uma grande diversidades de estirpes da bactéria em questão. Considerando esta realidade, a equipa portuguesa propõe “uma vacina universal” contra as diversas estirpes existentes, o que torna este trabalho único.
Até ao momento os resultados têm sido positivos: os ensaios realizados em animais evidenciaram “uma resposta imunológica muito específica contra diversas estirpes” da H.pylori, o que deixa a equipa otimista em relação ao futuro.
“O nosso objetivo é concluir a otimização da construção da vacina e passar aos testes pré-clínicos”, revela a docente, que coordena atualmente a licenciatura e o mestrado em Engenharia Biomédica da FEUCP. Para que tal seja possível a investigação vai necessitar, no entanto, de um novo financiamento, pelo que está a ser estudada “a implementação de uma empresa com este fim”.
Atualmente, a única forma de curar a infeção por H.pylori é passar por um tratamento que engloba três medicamentos – dois antibióticos e um inibidor de bomba de protões – mas que já falha em cerca de 20% dos casos.
Se chegar ao mercado, a vacina portuguesa poderá, portanto, prevenir a patologia gástrica, diminuindo os riscos de úlceras do estômago e duodenais e, em última instância, de vir a sofrer de cancro.
[Notícia sugerida por Maria Manuela Mendes e Elsa Martins]