Num momento de forte retração da economia nacional decorrente da crise que temos vindo a enfrentar o sector do turismo percorreu o caminho inverso. Pressionado positivamente por uma procura crescente, o mercado teve (tem) de se reinventar, seja do ponto de vista da qualificação da oferta, seja ao nível do modelo de relacionamento, com e entre os diferentes atores do ecossistema turístico. Mas a evolução tecnológica tem sido também um acelerador de mudança, a digitalização do modelo de negócio, a criação de marketplaces abertos, a disponibilização de plataformas e open e big data… trouxeram um novo dinamismo ao setor, não só para os atores tradicionais, mas acima do tudo na dinamização de novos modelos de negócio e no aparecimento de novos players.
Para a implementação de um modelo sustentável para o setor é essencial ter uma visão de longo prazo, alinhada entre os seus principais atores, sejam públicos ou privados, de geometria variável, flexível e preditiva, capaz de responder às variações de ciclo, sejam estes políticos ou económicos. O alinhamento top down na estratégia de promoção externa, liderado pelo Turismo de Portugal, com as diferentes Agências Regionais de Promoção Turística é essencial para maximizar o impacto da operação de promoção nos mercados internacionais e com isto aumentar a eficiência da mesma, sem ignorar as especificidades dos diferentes destinos, envolvendo de forma ativa os diferentes agentes privados no desenho, desenvolvimento e implementação desta visão. Mas importa também agilizar e otimizar o atual modelo de gestão, nomeadamente no que respeita à promoção interna; com as atuais Entidades Regionais de Turismo, a suportarem um legado estrutural que consome recursos que poderiam estar orientados à geração de novas dinâmicas indutoras de negócio para as diferentes regiões. O assumir de um novo papel por parte das Áreas Metropolitanas, Comunidades Intermunicipais e Autarquias, em conjunto com os agentes económicos locais, na promoção interna dos diferentes destinos será um cenário a equacionar no curto prazo no sentido de fazer mais com menos e maximizar a eficiência do sector turístico regional. Mas, para um modelo de governança efetivo é urgente regular, seja à escala nacional ou local, no sentido de antecipar e evitar fatores de pressão negativos que possam impactar de modo menos positivo o dia a dia dos cidadãos e dos territórios e com isto deitar a perder aquilo que foi construído e alcançado.
Além da governança é essencial conhecer a procura e qualificar a oferta. Se a estratégia e o modelo de governo são o cérebro de todo o modelo, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) serão o sistema nervoso, dando capilaridade e efetividade a toda a relação entre os diferentes atores do processo, potenciando novos modelos de relacionamento, novas estratégias promocionais, novos atores e modelos de negócio, sendo também um ativo estratégico no suporte ao modelo de governação.
Conhecer e participar no ciclo de vida do turista potencial ou efetivo é essencial; tirar partido do potencial das TIC e do marketing digital na influência no processo de escolha do destino, mas acompanhar e manter um relacional ao longo de todo o processo, viagem, experiência no destino, e em particular no processo de feedback e follow-up da experiência é determinante no processo de recomendação futuro, pois mantendo a relação ativa, fruto da empatia criada, o turista poderá ser um embaixador do destino e recomendar ativamente a experiência, algo que no modelo tradicional não era viável. Mas as plataformas tecnológicas são também o espaço de oportunidades ao nível da estruturação e qualificação da oferta. A disponibilização de marketplaces abertos, que permitam colocar numa única plataforma uma oferta integrada de experiências locais, poderá não só influenciar o decisor no momento da escolha do destino, como criar novas dinâmicas de negócio no momento da presença no destino, com vantagens evidentes para o turista e para os players do setor. As plataformas de open data podem ser também um instrumento importante na dinamização local do setor, ao disponibilizar informação estruturada e certificada por entidades oficiais ao mercado, induzimos um ciclo virtuoso de geração de novas soluções, grande parte das vezes a custo zero, desenvolvidas pela comunidade empreendedora, nomeadamente start-ups, o que induzirá um efeito de arrasto relevante no ecossistema económico local.
É certo que o caminho se faz caminhando e, como noutros setores, é essencial competir, cooperar competindo, pelo que o setor privado, em parceria com o setor público, terá de assumir um papel central na definição do modelo de governança do setor, privilegiando a qualificação da oferta, a estabilidade de políticas, a co-regulação e a inovação, no sentido de responder às reais expectativas dos turistas, dos territórios e dos agentes económicos.
Vladimiro Cardoso Feliz
CIO & HEAD Smart Cities Program do CeeiA e Presidente da Assembleia Geral da Addict
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