Hoje vou abrir as janelas do meu coração e vou falar-vos dos meus avós. Sei que sou uma privilegiada porque, com quase 34 anos, tenho três dos meus avós comigo… e nesta crónica vou falar-vos de dois em particular: os pais do meu pai. Ontem, Domingo de Páscoa, almoçámos todos juntos. Como sempre, o meu lugar é entre os dois, sem discussão possível.
Vejo-os como uma espécie “não humana”, acima dos defeitos das pessoas. As pessoas traem-se; os meus avós nunca. As pessoas discutem e são pouco ponderadas; os meus avós nunca. As pessoas são egoístas; os meus avós vivem para ajudar os outros. Nunca ouvi o meu avô dizer mal de ninguém, nunca. Nunca os ouvi negar ajuda, pelo contrário: correm tudo, seja a que horas for, se ouvirem um múrmurio de apelo.
Quando eu andava na escola, tive de ir ao quadro escrever o nome deles, porque ninguém acreditava que alguém pudesse ter estes nomes no Bilhete de Identidade: Irmogéneo e Eudóxia Serafina. Podem reler, é verdade! E livrem-se de escrever Eudóxia sem “x”, ela diz-vos. Quanto ao Irmogéneo, já lhe chamaram de tudo! Na comemoração das Bodas de Ouro do casamento, na Igreja do Campo Grande, o senhor Padre chamou “Hidrogénio” ao meu avô! Não imaginam as gargalhadas da minha família, contidas, mas ainda assim ligeiramente ecoadas! E há pouco tempo, quando chegámos ao médico, veio a senhora da recepção à sala de espera e diz: ” Senhor Irmão Gémeo Oliveira”. Nem os nervos para sabermos o que diria o doutor sobre o TAC nos pouparam, aos três, de uma valente risada.
Enfim, os meus avós são os anjos da família. Para mim e para o meu irmão Kiko foram absolutamente notáveis! Fizemos tudo o que duas crianças podem e devem fazer para crescer saudáveis. Não valeria agora a pena falar-vos agora de bicicletas no tejadilho a caminho do Vimeiro durante verões consecutivos.. De passeios a duas rodas até à praia, com direito a apanhar amoras pelo caminho, de apanhar figos com a minha avó, dos piqueniques, das tardes de praia com uma geladeira onde não faltava qualquer espécie de fruta! Dos Invernos com jogos e filmes e gelados em cone e bolacha que o meu avô comprava no café ao lado de casa. Aprendi a fazer mousse com 3 aninhos e tricot com 5! E sabem o que é fantástico? Tenho 33 anos e a minha maneira de estar com eles é exactamente a mesma. Rimo-nos das mesmas coisas e eles riem-se muito por me verem rir (respiro fundo). Com as lágrimas a rebentar dos olhos te digo: que amor tão grande, este, que morrerá comigo.
Não será a vida uma viagem? Uma viagem tão bela como a tentamos tornar a cada instante? Acredito a pés juntos que só fazendo o bem, saberemos distinguir a maravilhosa sensação de o receber. Receber um sorriso sentido é mesmo um momento que enternece o espírito e justifica um dia! Dar valor aos detalhes para realizar grandes feitos! Sorrir, abrir uma porta, deixar passar, agradecer, desejar um bom dia, cantar no carro bem alto a música que dá na rádio, abraçar os amigos, os pais, os irmãos. É assim que agradeço o facto de estar viva em cada milímetro de pele e coração. Não quero estar por estar, quero estar e ver, estar e dar, estar e aprender. Nem todos os dias consigo, mas pelo menos tento. O saldo final tem sido muito positivo!
Hoje é segunda feira, o sol está tão quente! Há um cheiro a Verão que me chama, não sei se é do João, se das flores que se misturam na varanda de nossa casa, se da alegria de ter escrito estas linhas sobre os meus avós. Sei que é um cheiro que me chama, sabem? E eu vou.
Um sorriso rasgado para todos e boa semana!
Tânia