De norte a sul do país, mas também nas hortas de todo o mundo, os acaros-aranha são vistos como uma das maiores pragas para a o desenvolvimento de mais de mil plantas diferentes. Desde o milho, à soja, passando por frutos como os morangos e legumes como os tomates, pepinos e pimentões, todos estes são alimentos que integram a dieta destes bichinhos.
Segundo informa o comunicado divulgado pela Universidade de Ontário Ocidental, a líder do estudo, estima-se que, em todo o mundo, o ácaro-aranha cause prejuízos na ordem dos mil milhões de euros. No total, cerca de 13% das potenciais culturas acabam por ser destruídas por insetos e ácaros.
De forma a encontrar novas soluções de combate a esta praga, um consórcio de cientistas provenientes de oito países dedicou-se à análise genética destes animais e conseguiu desvendar o seu genoma. Além do Canadá, estiveram envolvidos investigadores espanhóis, belgas, franceses, chilenos, alemães, suíços e portugueses.
No nosso país a investigação esteve nas mãos do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e do Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). A investigação foi publicada esta semana na revista Nature.
Seda dos ácaros tem potencial para o setor da construção de reforços
“Descobrimos o genoma da criatura e, mais importante, acreditamos ter encontrado o seu 'calcanhar de Aquiles', já que podemos começar a desenvolver não-pesticidas, alternativas às medidas de controlo de pragas”, diz Miodrag Grbic, professor de biologia da Faculdade de Ciência Ocidental. “Esta espécie é conhecida por desenvolver resistência a pesticidas”.
Os cientistas conseguiram descobrir a base genética que lhes permite adaptarem-se a diferentes plantas. Isso acontece graças à sua capacidade para multiplicar e conjugar novos genes de forma a descontaminar as moléculas de plantas tóxicas. Mas ainda mais surpreendente é que estes ácaros “sequestram” os genes das bactérias e fungos, incorporando-os no seu próprio genoma.
“Ao identificarem os genes que permitem produzir plantas resistentes aos ácaros-aranha, introduzindo novas ferramentas na biotecnologia baseada no controlo de pragas e reduzindo a capacidade dos ácaros-aranha para se reproduzirem, esta equipa pioneira abre portas para uma agricultura mais sustentável”, explica o comunicado.
O grupo descobriu ainda que a seda produzida pelos Tetranychus urticae – nome científico – tem um enorme potencial para a construção de materiais de reforço, por exemplo na indústria aeronáutica e automóvel. Os ácaros pertencem ao segundo maior grupo de animais do mundo, a seguir aos insetos.