Deu início à globalização, no século XV, tornando-se na primeira potência à escala mundial.
Como é que o país mais antigo do mundo e pioneiro da globalização pode ser apelidado de startup?
Todas as nações têm os seus altos e baixos e Portugal não é exceção. Precisamente pela sua antiguidade, já passou por vários tempos áureos e por vários períodos negros.
Portugal está atualmente, e mais uma vez na sua história, a explorar. A tentar descobrir qual o posicionamento certo para uma pequena nação num mundo em que, cada vez mais, a força dos números conta. A tentar descobrir qual o seu papel e o que tem para oferecer, de novo, ao mundo.
Encontra-se portanto num contexto equivalente ao de uma startup, tentando validar o seu valor e oportunidades de crescimento da forma mais célere e interativa possível.
O país abraça uma verdadeira cultura de inovação e de empreendedorismo. Por esse motivo, atrai agora os olhares dos mais atentos.
Este primeiro vislumbre de sucesso deve-se a um conjunto de fatores – talento, ciência e infraestruturas – que agora se alinham mas que começaram a ser construídos (poderemos arriscar dizer) há cerca de vinte/trinta anos – muito pouco tempo para uma nação.
Uma aposta na educação e na investigação permitiu formar profissionais competentes e cientistas de craveira mundial. Portugal registou, de facto, um avanço significativo nestas áreas, a que não são indiferentes as parcerias internacionais MIT Portugal, CMU Portugal, UT Austin Portugal e Fraunhofer Portugal, agora a celebrarem dez anos. Há atualmente uma nova geração de portugueses com talento, qualificações e competências comparáveis às das nações mais avançadas do mundo.
Portugal dotou-se também de infraestruturas laboratoriais, tecnológicas e de apoio às empresas de referência. A primeira incubadora de base tecnológica surgiu em 1991, na cidade de Coimbra, por iniciativa da Universidade de Coimbra, que lançou uma entidade autónoma – o Instituto Pedro Nunes (IPN) – para esse efeito. Hoje em dia, todas as universidades do país têm infraestruturas semelhantes, de que salientamos UPTEC (no Porto), Madan Parque (em Lisboa) e IEUA (em Aveiro). A juventude deste promissor país startup é ainda mais evidente quando se verifica que as duas principais entidades promotoras do empreendedorismo em Lisboa – a Beta-i e a Startup Lisboa – foram criadas em 2010 e 2011, respetivamente. E em Braga, a Startup Braga, apenas em 2014.
Um fator tipicamente indispensável para o crescimento rápido e global de uma startup é a disponibilidade de capital de risco. Em Portugal, este setor está a dar os primeiros passos. Quase inexistente até 2009, foi significativamente impulsionado com o lançamento de fundos de coinvestimento entre o Estado e os “business angels” e as sociedades de capital de risco. Outro marco fulcral foi a reformulação operada em 2012, que resultou na criação da Portugal Ventures – a atual sociedade de capital de risco pública. Estando o setor em franco desenvolvimento, o desafio passa por criar laços internacionais fortes. Não há ainda nenhuma grande SCR internacional permanente no país. Portugal pode ser uma excelente porta para a Europa e para o mundo português.
Com o alinhamento destes fatores, Portugal deu origem, num curto espaço de tempo, a startups tecnológicas capazes de vencer no mercado global – casos da Farfetch, Feedzai, Talkdesk, Uniplaces, Codacy, entre outras. Muitas mais empresas promissoras estão a nascer um pouco por todo o país. Nas mais diversas áreas, desde as profundamente tecnológicas – TIC, Saúde, Energia, Transportes, etc. – até às mais tradicionais –Textêis, Moda e Calçado, Cortiça, etc. Há uma nova comunidade de empreendedores e freelancers que se organiza em coworks, fablabs e outras formas de colaboração.
Portugal está a criar um verdadeiro ecossistema nacional de empreendedorismo. Lisboa e Porto, as duas grandes áreas metropolitanas, assumem-se já como hubs de inovação à escala europeia. Lisboa, em particular, apresenta um crescimento marcante, fruto da sua capacidade de atração de talento e recursos internacionais. Coimbra, como cidade universitária de excelência, diferencia-se pelo empreendedorismo assente em ciência e tecnologia de ponta. O crescimento de Braga e Aveiro, e a sua proximidade ao Porto, reforçam o ecossistema do norte do país, de cariz fortemente industrial.
O mundo está a mudar rapidamente e Portugal também. Em poucas décadas, registou um progresso assinalável. O país, como startup promissora, tem de continuar a atrair talento e investimento, ganhar credibilidade e internacionalizar. Não é quando um mercado está numa fase inicial de crescimento que se deve entrar? De que está à espera?!
João Bigotte
Professor Auxiliar – Inovação e Empreendedorismo
Universidade de Coimbra | MIT Portugal
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