"Viva, então como está?" Resposta 1: "Bem! A família está bem, o emprego vai andando, os miúdos tiveram notas boas." Resposta 2: "Tive uma semana péssima. Não consigo arranjar um emprego melhor, o namorado não me dá atenção e andei a dormir muito mal
[Por Madalena Lobo, Psicóloga Clínica]
“Viva, então como está?”
Resposta 1: “Bem! A família está bem, o emprego vai andando, os miúdos tiveram notas boas.”
Resposta 2: “Tive uma semana péssima. Não consigo arranjar um emprego melhor, o namorado não me dá atenção e andei a dormir muito mal.”
Respostas diferentes? Curiosamente, são apenas duas variações, da mesma atitude de base: olhamos para o exterior para definir se estamos bem ou não. E, ainda que isto tenha uma evidência apelativa, deixa-nos numa situação impossível: então nós não temos nenhuma interferência? Andamos chutados ao sabor do vento, sem uma palavra a dizer sobre o rumo que pretendemos?
De vez em quando, vale a pena parar um pouco e reflectir sobre a centralidade que ocupamos na nossa vida. Os acontecimentos sucedem-se, por vezes, num ritmo estonteante, e permitindo uma multiplicidade de interpretações que faz com que cada um de nós os assuma de forma diferente. A Maria e a Ana tiveram ambas de aceitar uma situação profissional abaixo das suas qualificações e com menor remuneração. A Maria cai numa depressão profunda; a Ana sente-se radiante.
Estranho? E, no entanto, é isto que acontece, junto com as várias reacções intermédias e mesmo muito diferentes, justificado apenas pelo facto de que cada um de nós traz uma bagagem psicológica diferente: diferentes aprendizagens passadas, diferentes percursos e conhecimentos, diferentes contextos de valores pessoais, etc. Face a um qualquer acontecimento, julgamos que estamos a reagir de uma forma directa e evidente ao acontecimento em si, mas estamos, de facto, a reagir àquilo que é a forma como esse acontecimento foi interpretado, digerido, encaixado dentro de nós.
A Maria, por exemplo, pode ter-se sentido esmagada por sentimentos de falta de valor pessoal, de incapacidade de gerir financeiramente a sua vida, assaltada por histórias de insucesso profissional ou académico que tiveram desfechos infelizes.
A Ana pode ter sentido que tinha a oportunidade de ganhar tempo de qualidade para a si, para a família e amigos, pelas menores exigências profissionais e contar com exemplos conhecidos ou situações passadas na sua vida que lhe dão tranquilidade para acreditar que é possível encontrar soluções adequadas para aspectos mais práticos de uma gestão quotidiana de maior restrição orçamental e, sobretudo, para repor a sua carreira futura na primeira oportunidade.
Ignorarmos isto, porque é assim que estamos programados para fazer, é perdermos um fundamento importante da nossa liberdade pessoal. Assumirmos automaticamente que estamos bem, porque a vida está bem, e mal porque a vida corre mal, é ignorarmos que temos uma palavra a dizer, e que é essa palavra que determina a resposta que podemos dar, quando nos perguntam “Como está?”. E a resposta tanto pode ser “Bem! Estou a conseguir reorganizar-me e a tentar encontrar formas diferentes de reagir”, como “Esta semana foi péssima, porque ainda não consegui descobrir como vou reagir a isto de uma forma útil”.
Nas duas versões, a pessoa que responde está, na verdade, a dizer: “Eu sou o centro incontornável da minha vida”. E isso é muito bom prognóstico quanto à nossa capacidade para surfar as ondas da vida.
Por isso, pergunto-lhe, agora: “Então, como está”? Dê a si próprio o luxo de um minuto de reflexão sobre como pode responder estando no centro da sua vida e repare no que pode mudar.
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