por Dr. Nuno Palas, nutricionista
A obesidade é um tema urgente na nossa sociedade: todos sabem o que é, mas poucos são os que agem em concordância com esse conhecimento, principalmente no que toca às crianças.
Os números deste flagelo são graves e assumem um tom premonitório nefasto para a nossa sociedade. Tendo por base um estudo de referência mundial, o COSI Portugal 2016 (Childhood Obesity Surveillance Initiative), 30,7% das crianças portuguesas entre os 6 e os 8 anos apresentam excesso de peso e 11,7% são obesas.
Sabe-se hoje que, indiretamente, o peso e, diretamente, os hábitos alimentares e estilos de vida saudáveis são fundamentais para prevenir as doenças que mais matam, principalmente as cardiovasculares e alguns cancros.
Sabe-se ainda que cada vez mais doenças crónicas aparecem em idades mais jovens, como por exemplo, a diabetes mellitus e a Hipertensão Arterial.
Sabe-se que os hábitos alimentares são construídos desde tenra idade, aproximadamente e com alguma variabilidade até aos 6 anos. Por isso, é mesmo necessário colocar em prática o ditado “De pequenino se torce o pepino”.
Por tudo isto, a obesidade infantil é já um problema sério, mas ganha relevo quando olhamos para ele como a “bola de cristal” para ver o futuro, com artes de adivinhação que as estatísticas facilmente demonstram não ser um exercício de hipóteses mas de certezas.
Se assim é, urge corrigir e construir sociedades que continuem a aumentar a esperança média de vida, com mais saúde e qualidade de vida. É isto que tem acontecido na última década.
Olhando para este mesmo COSI 2016 e não obstante o ainda mau cenário e a nossa má posição face à Europa é inegável que:
1. De 2008 para 2016 o excesso de peso nas crianças decresce 7,2% e a obesidade 3,6%;
2. Este decréscimo nacional é uma realidade em todo o país;
3. O maior decréscimo acontece nos Açores (15,6%), região europeia com uma das maiores taxas de obesidade infantil e que sofreu um forte investimento público na dotação dos centros de saúde de nutricionistas, e, com estes, novas políticas de educação alimentar, que têm surtido resultados fantásticos;
4. A prática de atividade física, apesar de insuficiente, também melhorou.
Ou seja, vemos uma série de fatores a melhorar e um investimento público que, quando foi feito, teve repercussão francamente positiva como aconteceu nos Açores.
Por isso, se o seu filho tem excesso de peso ou é obeso, incentive-o, faça atividade física com ele, demonstre com exemplos como deve ser alimentação, se não tem hipótese de lhe fazer as refeições em casa, obrigue-o a fazer na escola (terá um ambiente mais controlado) e se precisar também de perder peso, demonstre-lhe que é capaz de perder!