“Clarabóia” é o nome deste romance onde se encontram já esboços do que viriam a ser as obras seguintes de Saramago, revelou à Lusa o editor da Caminho que classifica a obra como “um romance interessantíssimo”.
“Vamos publicá-lo no final do ano. Em outubro ou novembro estará pronto. Eu já tenho comigo o original, estamos a trabalhá-lo – e está completo. Ou seja, é possível publicar o livro sem qualquer interferência, não lhe falta nada, não lhe falta nenhum bocado” disse à Lusa o editor.
Este “novo” romance apresenta um grande número de personagens, segundo Zeferino Coelho, que partilham um mesmo espaço: um prédio, onde “cada andar está ocupado por uma família”. “As famílias são todas completamente diferentes e Saramago conta-nos a história de cada uma delas”, continua.
De acordo com Zeferino Coelho, uma das personagens retratadas nesta história é próprio Saramago que nela se debruça sobre “os seus próprios problemas, nomeadamente, com um problema que nunca resolveu, que é o otimismo e o pessimismo: se a humanidade é recuperável ou não […] e que atitude deve cada um de nós tomar, sentirmo-nos responsáveis por aquilo que se passa à nossa volta e intervir ou acharmos que não temos nada a ver com isso e afastarmo-nos de qualquer intervenção na sociedade”, resumiu.
Zeferino Coelho contou também como foi reencontrada esta obra de Saramago escrita no princípio dos anos 50. “O livro foi entregue à editora nessa altura e, depois, a editora não disse nada e, aparentemente, o próprio Saramago se esqueceu do livro. Até que, nos anos 1980, recebeu uma carta do editor, dizendo que tinha lá o livro, que o publicaria se ele quisesse e ele não quis”, explicou.
O editor contou ainda à Lusa que José Saramago “disse que não tencionava publicar o livro, mas depois acrescentou que se quisessem publicá-lo depois da morte, sobre isso não se pronunciava, que as pessoas que têm de tratar disso fizessem como entendessem”.
Por vontade de Pilar e deste amigo e editor do falecido escritor, “Clarabóia” vem agora ao encontro do público português, num regresso surpreendente daquele que foi um dos escritores portugueses com maior reconhecimento internacional.