O que começou como um projeto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), culminou num protótipo que já conta com uma patente provisória registada.
“Em tempo real é possível identificar o tipo de catarata, caracterizar o seu grau de severidade e estimar a sua dureza e dimensão”, explica a equipa, que inclui membros do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e do Instituto de Telecomunicações da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC.
“[O aparelho é capaz] de avaliar a progressão da doença, cuja informação é essencial para a decisão clínica” de operar ou não, explica Jaime dos santos, um dos investigadores. A ideia é criar uma ferramenta de diagnóstico simples, robusta e de baixo custo.
Miguel Caixinha, investigador da equipa, complementa: “os clínicos passarão a ter acesso a dados objetivos que contribuirão para um diagnóstico e uma decisão da necessidade de cirurgia”. A tecnologia baseia-se em ultrassons de alta frequência (ondas oftalmológicas).
Os investigadores obtiveram uma taxa de sucesso de 99.7% na caraterização e estimação automática da dureza de diferentes tipos de catarata. “Se no olho de um ratinho conseguimos contornar os vários obstáculos que surgiram relacionados com a dimensão extremamente pequena do olho, ao passar para os ensaios clínicos o processo será muito mais simples porque a dimensão do olho humano é muito maior”.
O projeto encontra-se atualmente na fase de ensaios clínicos, mas a equipa já está à procura de parcerias para comercializar o aparelho.
Doença afeta 50% da população acima dos 60 anos
A catarata é uma consequência do envelhecimento (situação mais comum), mas também pode ser congénita. Existem fatores de risco que podem acelerar o seu aparecimento – estes fatores incluem a utilização de certos medicamentos, a nicotina e algumas doenças metabólicas (hipertiroidismo e diabetes), radiações UV e de raios X, algumas infeções durante a gravidez, a alta miopia e alguns traumatismos oculares.
Segundo o Centro Cirúrgico de Coimbra, as estimativas sugerem que mais de 50% da população mundial com mais de 60 anos é afetada pelas cataratas.
A doença tem este nome porque a visão fica turva, como se os pacientes vissem uma imagem através de uma queda de água. O responsável é o cristalino, uma lente natural que existe dentro do olho – o cristalino fica opaco e perde a transparência necessária para deixar passar a luz.
A cirurgia é o único tratamento possível, mas tem de ser precisa – a intervenção é feita com uma incisão (de milímetros) na lateral da córnea, por onde entra a nova lente intraocular.
"[É necessário] substituir o cristalino por uma nova lente intraocular sem danificar a sua cápsula posterior e a córnea, nem causar lesões na retina. Fazendo uma analogia, é como ter de implodir um prédio sem danificar o museu de arte que está à sua volta", segundo Miguel Caixinha.
Geralmente associada ao envelhecimento, esta doença caracteriza-se pelo desenvolvimento de opacidade no cristalino (lente) do olho, o que pode levar à perda de visão. A Organização Mundial de Saúde estima que, em 2020, 40 milhões de pessoas serão afetadas por esta condição.