As modificações que ocorreram nos comportamentos económicos e financeiros nos últimos anos também obrigaram o sector a modernizar-se e a inovar.
Num mundo em constante evolução, em que a cada segundo se conhecem novas máquinas e soluções para muitos dos obstáculos, a alimentação e a nutrição não ficam atrás.
Recentemente tivemos a apresentação, em Portugal, de dois documentos: um nacional, o Inquérito Alimentar e de Atividade Física, e outro internacional, Obesidade adolescente e comportamentos relacionados: tendências e desigualdades na Região Europeia da Organização Mundial de Saúde (OMS), 2002-2014, que permitiram conhecer de forma mais concreta os hábitos alimentares das populações europeias.
O excesso de peso e a obesidade estão a atingir níveis preocupantes nas crianças, em Portugal, estando no top 5 da obesidade infantil, com cerca de 30% das crianças a terem excesso de peso ou obesidade.
A OMS revela que, de forma generalizada, os indicadores mostram que os comportamentos alimentares dos adolescentes, se mantêm muito longe do ótimo, com um consumo exagerado de produtos açucarados e ingestão deficiente de fruta e hortícolas. Em 2014, só 38% dos adolescentes entre os 11 e os 15 anos, de 40 países e regiões da Europa, relataram consumir fruta diariamente. Tanto os rapazes como as raparigas portuguesas tendem a alimentar-se pior com a idade (dos 11 para os 15 anos). A realidade global neste sector impulsionou a indústria de alimentação e bebidas a desenvolver esforços para colaborar com as entidades governamentais para melhorar os hábitos alimentares dos europeus. Exemplo disso é a FoodDrinkEurope, organização europeia cuja missão é criar condições para que todas as empresas europeias do sector possam atender às necessidades dos consumidores e da sociedade. Esta organização, no âmbito de um painel sobre “Vida sustentável: previsões para 2050”, lançou um apelo à ação para melhorar a alimentação e promover uma boa nutrição e saúde.
Os desafios da indústria no plano da nutrição são também na prevenção e tratamento de doenças e as intolerâncias alimentares estão também no topo das motivações para a inovação.
A elevada prevalência estimada de intolerantes à lactose em Portugal pressiona a indústria alimentar a encontrar soluções alternativas. Segundo a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos, a maioria dos intolerantes suporta bem até 12 gramas de lactose (2 iogurtes) a cada ingestão. Mas também há situações de tolerância zero, por ausência da enzima que a decompõe. O leite sem lactose foi uma inovação alimentar de elevada utilidade nutricional para os portugueses, pois mantêm a ingestão de lacticínios sem efeitos nefastos.
Na minha família direta, todos temos uma intolerância marcada à lactose. Em criança, não tinha acesso ao leite sem lactose, logo fruto dos efeitos secundários que a ingestão de leite me provocava comecei a rejeitar o seu consumo e deixei mesmo de consumir este alimento. Contrariamente, o meu filho, de 12 anos, depois de diagnosticada a mesma intolerância, passou a ingerir leite sem lactose, fazendo parte da sua alimentação diária este alimento completo e importantíssimo para cumprir com as recomendações para ele. Grata pela inovação!
Mas a inovação alimentar não se restringe ao já focado. Muitas vezes inova-se “apenas” para apresentar alternativas alimentares saudáveis aos consumidores. Somos surpreendidos a cada dia que passa: onde é que, há pouco tempo, imaginávamos poder incluir no nosso dia alimentar fruta (desidratada) nutricionalmente equivalente a fruta fresca, mas com uma textura estaladiça, que delicia os consumidores? Já há empresas em Portugal a produzir estes produtos.
Onde é que “ontem” pusemos a hipótese de ingerir bacalhau sem espinhas e com baixo teor em sal? Os idosos e as crianças e respetivos pais vão agradecer esta opção segura para ingerir este alimento, mantendo a tradição culinária portuguesa. Na zona Centro de trabalha-se arduamente para colocar essa alternativa no mercado.
E beber uma infusão, em que para além dos ingredientes ativos das plantas teremos vitaminas ou outras substâncias que nos garantem o cumprimento das alegações de saúde? Pois bem, também na região Centro há quem as produza.
Como nutricionista olho para a Inovação alimentar como um pilar para o futuro. Estou certa que com a colaboração da nossa classe profissional, as empresas e indústrias encontrarão soluções que possibilitarão melhorar os hábitos alimentares dos portugueses. Vamos a isso!
O conteúdo Inovação Alimentar – Uma ferramenta essencial para o futuro da Nutrição aparece primeiro em i9 magazine.