[por Sara Pinhão, Nutricionista Funcional]
A importância dos primeiros anos
A colocação dos primeiros “tijolos” da construção do cérebro tem início no momento da conceção, pelo que desde logo o estado nutricional da mãe e do pai são cruciais. A alimentação afeta não só o número de células cerebrais e conexões entre elas, mas também a forma com que essas conexões são realizadas, isto é, afetam de forma duradoura a capacidade posterior de aprendizagem do indivíduo.
O período mais rápido de desenvolvimento do cérebro ocorre durante a gestação e nos primeiros anos de vida. No último trimestre da gravidez o cérebro do feto aumenta 2,5 vezes o seu tamanho, atinge metade do seu peso final aos seis meses e 90% do seu peso final aos oito anos. Durante este período de rápido crescimento o cérebro está mais vulnerável às influências ambientais.
O período da infância funciona como uma janela de oportunidade para o desenvolvimento, podendo o cérebro estar mais recetivo para a aprendizagem. Se tais oportunidades forem perdidas será mais difícil, porém não impossível, que se possam reativar futuramente.
Para ter uma ideia, até aos 10 anos a maior parte das crianças tem a capacidade de aprender fluentemente 3 línguas diferentes e de forma natural, ou seja, sem ter propriamente aulas ou ter que estudar gramática, pois é dos 0 aos 10 anos que se estão a formar os circuitos da linguagem. Por contrapartida, os adultos necessitam de horas de ensino organizado e prática, mas uma criança de apenas 4 anos, e que obviamente não sabe ler nem escrever, é capaz de saber já duas línguas diferentes e distingui-las enquanto fala, sem baralhar os idiomas. Fantástico, não é?
Apesar do ambiente nutricional saudável ser crucial a partir do primeiro momento da vida, pesquisas mostram que com a alimentação correta é possível melhorar do desempenho mental tanto em crianças ditas saudáveis como em crianças com doenças degenerativas do cérebro e/ou necessidades especiais de aprendizagem. Ou seja, nunca é tarde demais para ajudar o seu filho a melhorar a capacidade de aprendizagem, leitura, pronuncia, caligrafia, memória, atenção e concentração.
Como construir um cérebro inteligente
Existem compostos essenciais para um cérebro inteligente, para maximizar o potencial de aprendizagem do seu filho: hidratos de carbono complexos, ácidos gordos essenciais, fosfolípidos, aminoácidos, vitaminas e minerais.
Contudo, existem compostos que poderão perturbar/danificar o cérebro, dificultando o normal processo de aprendizagem e desenvolvimento cerebral, pelo que deverão ser evitados: açúcar refinado, gorduras danificadas, aditivos alimentares, minerais tóxicos e alérgenos alimentares.
Da teoria ao prato
1.º – Açúcar
Alguma vez foi buscar o seu filho a uma festa de aniversário e ao abrir a porta deparou-se com uma sala cheia de miúdos descontrolados a treparem pelas paredes? Em grande parte este fenómeno deve-se ao efeito do açúcar em excesso no cérebro das crianças. No dia a dia existem inúmeras fontes de açúcar a que o seu filho tem acesso e que contribuem para um descontrolo do seu cérebro com manifestações no seu comportamento – demasiada energia, incapacidade de estar sentado e concentrado nas aulas.
Corte no açúcar refinado e todas as fontes de açúcar: sumos, cereais de pequeno-almoço açucarados, bolos, bolachas, chocolates (mesmo chocolate em pó), gomas e rebuçados.
Para fornecer o melhor combustível para o cérebro, prefina hidratos de carbono complexos e cheios de vitaminas e minerais como a aveia em flocos para o pequeno-almoço, pão de mistura ou de cereais para o lanche e massas, arroz e leguminosas nas refeições.
2.º Gorduras essenciais Ómega-3
Durante o desenvolvimento no útero da mãe, metade de toda a nutrição que o bebé recebe é canalizada para alimentar o seu cérebro. No cérebro, as gorduras têm um papel fundamental, uma vez que 60% do mesmo é formado por gordura. Estas gorduras essenciais são tão importantes que se a grávida não as ingerir em quantidade suficiente o bebé vai começar a roubar diretamente do cérebro da mãe e daí muitas grávidas sentirem falta de memória, dificuldade de concentração e cansaço mental. Contudo, nem todas as gorduras são boas e o tipo de gordura que o seu filho ingere altera a composição do seu cérebro. Assim, evite a chamada 'comida de plástico', os fritos e todos os alimentos muito processados como bolachas e bolos industriais.
Prefira gorduras essenciais ómega-3, isso significa que o seu filho deve comer peixe regulamente, em especial peixe gordo como cavala, arenque, sardinha, atum fresco ou salmão e incluir nozes e sementes na maioria dos dias como as sementes de linhaça, de abóbora ou girassol.
3.º Fosfolípidos
Talvez nunca tenha ouvido falar, mas os fosfolípidos são uma espécie de gorduras importante e que no cérebro revestem os neurónios e porta
O ovos são uma fonte excecional de fosfolípidos. Dê preferência aos ovos orgânicos e ricos em ómega-3.
4.º Vitaminas e minerais
As vitaminas e minerais podem não ser os atores principais da peça, mas são eles que trabalham nos bastidos e sem os quais a peça seria um fracasso. Se privar o seu filho de determinadas vitaminas ou minerais estará a comprometer determinadas reações no cérebro. Uma dieta com muita fruta e hortaliça fresca, sementes, nozes e cereais integrais é mais rica em vitaminas e minerais. As frutas e hortícolas são também particularmente ricos em antioxidantes e serão o melhor aliado da saúde do seu filho para o protegerem de danos nas suas células e prevenir inúmeras doenças incluindo certos tipos de cancro. Este grupo de alimentos é muitas vezes mal recebido pelas nossas crianças mas, como pai e mãe, seja persistente e criativo. Ofereça estes vegetais crus, cozinhados, salteados, em saladas ou em sopas. Esta é a idade ideal para criar bons hábitos para a vida.
5.º Aditivos e químicos alimentares*
Nos últimos 50 anos foram adicionados aos nossos alimentos mais de 3.500 novos químicos, desde corantes, espessantes, emulsionantes, estabilizantes, bem como pesticidas e herbicidas. Todos estes compostos são classificados como “antinutrientes”, isto é, são substâncias que interferem com a nossa capacidade de absorver ou de utilizar os nutrientes essenciais e nalguns casos promovem a perda de nutrientes essenciais. A ingestão destas substâncias tem sido associada a problemas de comportamento, alterações de humor e fraco desempenho intelectual.
Para reduzir a exposição do seu filho a estes químicos o melhor é regressar às origens, isto é, evite todos os alimentos processados, industriais e refrigerantes. Prefira alimentos frescos, orgânicos, da época e de produção local.
*Aparecem na lista de ingredientes com a letra E seguida de números, por exemplo, E951 que corresponde a aspartame, usado como adoçante.
Em suma, as crianças merecem o melhor e com a alimentação correta para o seu cérebro é possível melhorar o seu comportamento e aumentar o QI (Quociente de Inteligência). Existem estudos científicos onde as crianças subiram 10 e até 25 pontos de QI apenas com alterações na sua alimentação.
Não existem 2 cérebros iguais, pelo que, junto de um nutricionista poderá obter recomendações personalizadas e específicas para o seu filho. Se está grávida é a altura ideal para começar!
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A nutricionista Sara Pinhão é fundadora da Nutrexpert, um projeto que associa os mais avançados conhecimentos científicos sobre o funcionamento do organismo, o poder da alimentação e estilo de vida para promover a saúde e o bem-estar físico e emocional.
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