No arranque do festival de Músicas do Mundo (FMM), esta quarta-feira, foram os sons lusófonos dos Cacique'97 e da brasileira Céu que aqueceram a noite. Bill Murray, mesmo com o convidado especial Daniel Melingo, arrefeceu o reportório de Nat King Col
[Foto © FMM/Sofia Costa] No arranque do Festival de Músicas do Mundo (FMM), esta quarta-feira, foram os sons lusófonos dos Cacique’97 e da brasileira Céu que aqueceram a noite. Bill Murray, mesmo com o convidado especial Daniel Melingo, arrefeceu o reportório de Nat King Cole, e as Rubias del Norte ficaram aquém das expectativas. Para hoje, quinta-feira, o grande destaque vai para o Grupo Fantasma e ainda 34 Puñaladas, Yasmin Levy, N´Diale e The Mekons.
Ninguém fica indiferente ao som dos Cacique’97. Prova disso foi o público que, na Avenida Vasco da Gama, junto à praia de Sines e ao pôr do sol, não parou por um segundo de dançar, pular ou, no caso dos mais discretos, abanar o pezinho e a cabeça aos sons do afro-beat luso.
Percorrendo o álbum homónimo que foi lançado no verão de 2009, os músicos moçambicanos e portugueses dos Cacique’97 interpretaram temas já famosos como o single de estreia “Eu quero tudo”, o elogio a Bruce Lee com “Dragão” e “Chapa 97”. A voz do público acompanhou muitas das letras, o que prova a popularidade crescente da banda, cinco anos após a sua formação em 2005.
O som dos Cacique’97, com a energia contagiante do vocalista e guitarrista Milton Gulli e a mestria dos outros nove músicos em palco [oriundos de bandas como os Cool Hipnoise, Philamornic Weed e The Most Wanted] eleva-se à altura das mais internacionais bandas do movimento afro-beat.
Murray e Las Rubias del Norte [quase] arrefecem a festa
O mítico Nat King Cole mereceu destaque nesta edição do FMM com o projeto Nat King Cole en Espagnol, liderado pelo músico David Murray. Mas desta vez, o entusiasmo registado pouco tempo antes pelo público esmoreceu. Acompanhado por 10 músicos e pela Sinfonieta de Sines [orquestra de cordas], Murray prolongou de forma excessiva os temas clássicos de Nat King Cole. Os instrumentos, mais de 20 em palco, sentiam a falta de uma voz quente como a de Cole para os acompanhar.
A esperança estava no convidado especial de Murray, o argentino Daniel Melingo, encarregue de interpretar três dos temas de Nat King Cole. Famoso pela sua voz envolvente e pela atitude rebelde, Melingo surgiu no palco com pouco entusiasmo, e despachou os clássicos “Piel Canela”, “A Media Luz” e “Quizas” com uma voz [demasiado] rouca que chegou a desafinar.
A noite continuou morna com as Rubias del Norte. Aquele que era um dos concertos mais esperados no castelo ficou aquém das expectativas. Impecáveis e eficientes, mas pouco inspiradoras, as norte americanas Allyssa Lamb e Emily Hurst trouxeram cha cha cha’s, boleros e algum romantismo francês. No entanto, a melancolia fria do tema final, “Porque te Vas”, aguçou-nos a curiosidade. Como serão estas Rubias misteriosas num concerto de sala fechada e intimista?
Céu em grande para terminar
Embora pouco entusiasmado com as duas atuações anteriores, o público do FMM persistia no recinto, embalado pelo cenário do castelo e pela noite morna que se fez sentir, ao contrário do frio noturno habitual neste festival.
Aquela que é considerada uma das vozes brasileiras mais promissoras do momento, abriu o concerto com “Espaçonave”. A letra avisa: “Eu quero te levar para uma viagem”. E num instante, Céu levou o público pela mão, atrás do reggae, samba lento e do afro-beat dos seus dois álbuns, o homónimo Céu [2008] e Vagarosa [2009].
Céu está bem acompanhada em palco. Toda a banda trabalha em uníssono num espectáculo de pura convergência. Destaque para o DJ Marco a apurar ainda mais o tom de cada música a partir dos pratos, lembrando, por vezes, ao fundo, alguns dos arranjos dos Portishead. A terminar, uma cover feminina e sensual de “Concrete Jungle”, tema incontornável do mítico Bob Marley, devolvendo ao público a magia das músicas do mundo.
Por volta das 3h30, a 12ª edição do FMM prosseguia de novo para a avenida Vasco da Gama, com o concerto dos peruanos Novalima, mas já sem a presença do Boas Notícias.
PM