Uma investigação nacional sobre a sustentabilidade da arquitetura tradicional portuguesa foi recentemente distinguida com o prémio de melhor artigo numa das mais prestigiadas conferências internacionais sobre sistemas construtivos tradicionais, a 'Ve
Uma investigação nacional sobre a sustentabilidade da arquitetura tradicional portuguesa foi recentemente distinguida com o prémio de melhor artigo numa das mais prestigiadas conferências internacionais sobre sistemas construtivos tradicionais, a 'Vernacular Heritage & Earthen Architecture: Contributions for Sustainable Development'.
Pelo título 'The Potential of Vernacular Materials to the Sustainable Building Design', o estudo dos três especialistas lusos foi premiado na categoria de 'Energy Efficiency & Sustainable Design'. Entre as mais de 400 propostas a concurso, o mesmo foi eleito por um júri composto por mais de 280 peritos em todo o mundo e, depois, publicado pela editora CRC Press / Taylor & Francis.
Trata-se da primeira investigação do género no país, ou seja, a primeira sobre a sustentabilidade da arquitetura tradicional portuguesa, e está a ser levada a cabo na Escola de Engenharia da Universidade do Minho, em parceria com a Fundação para a Ciência e Tecnologia.
O objetivo é quantificar o contributo dos princípios utilizados na arquitetura tradicional portuguesa para a sustentabilidade do setor dos edifícios, nomeadamente ao nível do comportamento térmico passivo. Posteriormente, pretende-se cruzar os ensinamentos da arquitetura tradicional com a engenharia atual.
Até 2015, o projeto vai avaliar o desempenho térmico das habitações tipicamente lusas e caracterizar as tecnologias usadas em diferentes climas, como, por exemplo, as casas de granito com varandas envidraçadas (orientadas para sul, para aproveitar o sol) da Beira Alta, os Palheiros de Mira (em madeira e, nalguns casos, com três pisos de altura), no Litoral Centro, e as casas-pátio (com vegetação interior, paredes espessas e vãos pequenos para limitar a entrada do sol), no Alentejo.
“Estes edifícios tradicionais eram, no geral, concebidos de modo a garantir o nível máximo de conforto possível”, refere Ricardo Mateus, líder da investigação, em comunicado. “Utilizavam-se os parcos recursos que existiam na época e recorria-se, principalmente, a estratégias passivas de climatização, pois não havia energia elétrica nem os convencionais sistemas de climatização”.
Juntamente com Luís Bragança e Jorge Fernandes, do Centro do Território, Ambiente e Construção (C-TAC) da Universidade do Minho, o responsável vai avaliar qualitativa e quantitativamente as vantagens destas construções e procurar adaptar os ensinamentos à construção atual, nomeadamente a nível da reabilitação e preservação do património existente.
As tecnologias construtivas dos edifícios tradicionais – também conhecidas por 'arquitetura popular' ou 'construção vernácula' – são desconhecidas por muitos arquitetos e engenheiros. “Há reconstruções em que se substitui erradamente taipa por tijolo”, elucida Ricardo Mateus, esperando que a investigação ajude a sensibilizar a comunidade e a indústria.
O também docente no Departamento de Engenharia Civil daquela universidade realça que as soluções arquitetónicas não são universais, havendo “realidades totalmente diferentes e adaptadas ao clima local, otimizando o comportamento dos imóveis para o menor custo possível e através da utilização de materiais da região”.
Notícia sugerida por Elsa Fonseca