A descoberta foi anunciada no National Astronomy Meeting 2016, um encontro de astrónomos que decorre de 27 de Junho a 1 de Julho na Universidade de Nottingham, no Reino Unido. A galáxia chama-se VR7 em homenagem a Vera Rubin, astrofísica norte-americana e a primeira mulher, em 150 anos, a ganhar uma medalha de ouro pela Royal Astronomical Society.
“O que é surpreendente é que estas galáxias são muito mais numerosas do que se pensava, e apresentam uma diversidade intrigante. Quando telescópios como o Telescópio Espacial James Webb estiverem a funcionar, seremos capazes de olhar com mais atenção para esses objetos intrigantes. Raspámos apenas a superfície, pelo que os próximos anos certamente nos reservam novas e fantásticas descobertas”, comenta David Sobral num comunicado emitido pela organização do encontro.
Descoberta revoluciona astronomia
Em 2015 a equipa liderada pelo astrofísico português também foi responsável por um anúncio semelhante que revolucionou o campo da astronomia: a descoberta da galáxia CR7 (abreviatura para Cosmos Redshift 7).
A descoberta foi o primeiro exemplo de uma galáxia espetacularmente luminosa pertencente à Época da Reionização – que os investigadores pensam albergar estrelas da altura do universo primordial.
A VR7 faz parte do mesmo leque de galáxias da CR7. A galáxia – a quinta descoberta do género – pode ter contribuído para mudar o universo primordial para o universo que conhecemos hoje, atuando na criação de elementos químicos pesados (necessários para a formação de estrelas como o Sol). Ambas são suficientemente brilhantes para terem contribuído para esta revolução do universo – conhecida por Época da Reionização.
As descobertas de Sobral e da sua equipa foram feitas com recurso aos telescópios Subari e Keck, no Hawaii, e ao Very Large Telescope no Chile, em conjunto com um grupo de investigadores norte-americanos.
"Os nossos resultados sublinham quão difícil é estudar as pequenas fontes [de luz] débeis no universo primordial. Os blocos neutros de gás hidrogénio bloqueiam alguma da sua luz, e por não serem capazes de construir as suas próprias bolhas tão rapidamente como as outras galáxias brilhantes, são muito mais difíceis de detetar", comenta Sérgio Santos, investigador português e membro da equipa de David Sobral.
Os resultados serão publicados no jornal Monthly Notices da Royal Astronomical Society.
Como se transformou o universo
O universo primordial refere-se ao estado do universo há aproximadamente 13 mil milhões de anos atrás, 150 milhões de anos após o Big Bang. A comunidade científica crê que na altura o universo era completamente opaco à luz ultravioleta, cuja passagem era bloqueada por gás hidrogénio.
A época da reionização refere-se à altura em que o universo foi transformado pela luz ultravioleta das primeiras estrelas, que ajudou a quebrar – numa escala universal – os átomos de hidrogénio, que passaram de um estado neutro para ionizado (como existe atualmente). Esta quebra permitiu à luz viajar livremente pelos cosmos e marcou a transição fulcral entre o universo primitivo e o universo que conhecemos atualmente, preenchido por elementos químicos pesados.
"As estrelas e buracos negros nas galáxias primordiais, mais brilhantes, devem ter projetado para fora tanta luz ultravioleta, que rapidamente partiram os átomos de hidrogénio no universo circundante", explica o astrofísico português.
"As galáxias mais fracas parecem ter ficado escondidas [de observadores] por muito mais tempo. Mesmo quando eventualmente se tornaram visíveis, elas mostram evidências de abundância de material opaco ao seu redor", complementa.
Notícia sugerida por Elsa Martins