O projeto-piloto, desenvolvido pela unidade de investigação do Instituto Piaget (com apoio da Santa Casa do Porto e Direção-Geral de Reinserção Social), chegou ao seu fim em abril. Pelo caminho de dois anos, os módulos da formação online permitiram às reclusas aprender – ou melhorar – conhecimentos de Word, Excel, Power Point, a somar a uma vertente sobre empreendedorismo. Algo que pode parecer simples, à primeira vista, mas que se complica na vida atrás das grades. A começar, por exemplo, pelo uso de computadores portáteis e de internet, privilégio pouco comum na vida prisional. Eis o primeiro desafio: é possível pôr a funcionar, na prisão, um programa de aprendizagem a distância?
A direção do estabelecimento prisional de Santa Cruz do Bispo permitiu a exceção e, por isso, todas as formandas do projeto puderam utilizar computadores dentro da própria cela. Para contrariar as restrições no acesso à internet, uma operadora de comunicações disponibilizou uma solução feita à medida para este projeto: as reclusas apenas conseguem aceder, na biblioteca, à rede necessária para a componente de formação.
Passo a passo, entre formações a distância e a presença de formadores, o projeto avançou. Primeiro com a ambientação à plataforma, depois com a aprendizagem dos conteúdos. “Se algumas reclusas demonstraram, desde logo, competências no manuseamento dos equipamentos e na resposta aos desafios propostos, outras manifestaram receios e dificuldades técnicas que se dissiparam no módulo de ambientação”, recorda Angélica Monteiro, uma das coordenadoras do EPRIS.
Para facilitar a aprendizagem, a formação foi adaptada ao perfil de cada uma das reclusas. Este foi, aliás, um dos principais fatores do êxito do projeto, considera a equipa do Piaget. Como reforça Rita Barros, corresponsável pela iniciativa, “o sucesso da formação, suportado em indicadores como o reconhecimento das reclusas dos potenciais benefícios do e-learning em termos pessoais e profissionais, parece estar associado ao facto de terem sido tidas em consideração as necessidades individuais e características pessoais destas reclusas”.
Terminado o projeto, arrumam-se os computadores e fecha-se o portão da cadeia? Se depender da equipa de investigadoras do Piaget, isso não acontecerá. Angélica Monteiro e Rita Barros consideram que o EPRIS resultou num “aumento da capacidade de aprender” das reclusas. Por isso, há que disseminar a formação em e-learning e a própria metodologia usada no projeto – tanto dentro da prisão de Santa Cruz do Bispo, como noutros estabelecimentos prisionais. Tudo para dar a estas mulheres, longe da liberdade, ferramentas para um futuro melhor.
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