Para muitos, o Empreendedorismo Social resulta da fusão entre os mecanismos de mercado e os processos inclusivos do sector social como se existissem princípios e lógicas de intervenção puramente distintivas. Todavia, as barreiras existentes entre os vários sectores (público, privado e social) são ténues. Existem organizações do sector social que são amplamente financiadas pelo sector público e/ou têm objetivos de redistribuição, outras que desenvolvem atividades lucrativas utilizando os mecanismos de mercado e os respetivos princípios de gestão. Por sua vez, as empresas fazem donativos substanciais ao sector social e existem, inclusivamente, áreas de atividade onde empresas e organizações sociais concorrem entre si.
Paralelamente, existem empreendedores que, utilizando mecanismos de mercado, estão profundamente comprometidos com os produtos e/ou serviços que produzem e/ou oferecem e que, por essa via, contribuem para a resolução de problemas sociais e para a transformação da Sociedade e outros que, criando modelos de negócio alternativos, assumem o mesmo desígnio. Pode-se, desta forma, concluir que a natureza jurídica de uma organização ou a formalização de uma iniciativa, por si só, não define a natureza do Empreendedor. Apesar de existirem diferenças significativas entre os vários tipos de formatos organizacionais, nenhum deles é invariavelmente superior aos restantes e o Empreendedorismo Social não é confinável a nenhum destes sectores e pode não resultar apenas em iniciativas híbridas que combinem elementos do Empreendedorismo Comercial e do Sector Social.
Afinal o que é o Empreendedorismo Social? O Empreendedorismo Social está relacionado com a motivação do Empreendedor Social que inspira a sua ação, e não com a natureza jurídica ou o formato associado à iniciativa que desenvolve. Um Empreendedor Social é assim motivado pela criação de valor para a sociedade e não pela captura de valor para si próprio. Por outras palavras, um Empreendedor Social é motivado pelo potencial de impacto social e de transformação da sociedade e não pelo potencial de geração de lucro decorrente da atividade da sua iniciativa. Um Empreendedor Social pode e deve ter lucro na justa medida em que este tipo de apropriação permita a sustentabilidade da sua iniciativa com vista à resolução do problema que identificou e para o qual canaliza toda a sua energia, disciplina e paixão.
O Empreendedorismo Social é, assim, o processo de criação de soluções inovadoras e geradoras de valor para problemas da sociedade – importantes e negligenciados – que se tornam uma inovação social quando o seu impacto é comprovadamente maior do que as soluções já existentes e implementadas (Santos, 2012).
A Economia de Impacto e o Empreendedorismo Social
O Empreendedorismo Social está no centro da Economia de Impacto. A Economia de Impacto é uma nova ordem económica onde a criação de valor para a sociedade passa assumir um papel fundamental enquanto foco das várias organizações que compõem este espaço. Assim, independentemente do setor de atividade da natureza jurídica da organização, o que verdadeiramente interessa neste novo espaço é o foco da organização e o impacto positivo liquido que produz para a sociedade. Este foco comum, que torna irrelevante a natureza jurídica e esboroa as barreiras artificiais que existem entre organizações, altera as respetivas práticas de gestão (obrigando, por exemplo, a um maior trabalho em rede e à convergência na atuação para potenciar o valor criado para a sociedade), de governance (tornando-as mais transparentes e em sistemas verdadeiramente abertos) e de negócio (promovendo a inovação nos processos, nos produtos e serviços e na própria forma de mobilização de recursos acessíveis, abundantes, livres e subutilizados na sociedade). Finalmente, e nesta perspetiva, a natureza jurídica trata-se de um meio para atingir um fim e depende do modelo de negócio adotado e não do foco da iniciativa.
O IES-Social Business School (IES-SBS) e a construção da Economia de Impacto
O IES-SBS tem como objetivo capacitar agentes de impacto nas suas várias fases do ciclo de vida para que possam o potenciar a criação de valor para a sociedade através da redução de problemas importantes, negligenciados, complexos e multidimensionais. Para o efeito, O IES-SBS promove vários programas de formação. Os programas powered by INSEAD e por fase do ciclo de vida – Bootcamp em Empreendedorismo Social para quem tem uma ideia ou um compromisso grande com a resolução de um problema; Scaling for Impact para iniciativas maduras e que pretendem desenvolver um plano de crescimento e o ISEP (INSEAD Social Entrepreneurship Program) para líderes de iniciativas em fase de disseminação. Adicionalmente, o IES-SBS promove todos os anos uma edição do MIB (Managing Impact Business) que é um programa de gestão executivo para gestores de iniciativas de impacto.
Finalmente, importa referir que a Economia de Impacto que o IES-SBS pretende ajudar a construir não é o espaço de cisão entre os vários sectores – público, privado e social – mas um espaço de convergência onde facilmente integraríamos a Madre Teresa de Calcutá, o Steve Jobs ou o Barack Obama.
Carlos Azevedo
Diretor Académico IES-Social Business School
O conteúdo Empreendedorismo Social: criação de valor para a sociedade! aparece primeiro em i9 magazine.