Um grupo de investigadores internacionais descobriu o "gatilho" responsável pelas dores mais severas de que sofrem os pacientes com cancro. O segredo parece estar num gene, o TMPRSS2.
Um grupo de investigadores internacionais descobriu o “gatilho” responsável pelas dores mais severas de que sofrem os pacientes com cancro. O segredo parece estar num gene, o TMPRSS2, cujo potencial bloqueio poderá significar uma gestão da dor mais eficaz e um alívio para os doentes.
Os cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, da Universidade de Nova Iorque, nos EUA, e do Forsyth Institute de Cambridge, no Reino Unido, coordenados por David Lam, começaram por estudar os cancros da cabeça e do pescoço, que afetam, anualmente, mais de 550.000 pessoas em todo o mundo e que são considerados os mais dolorosos, reagindo apenas a opióides fortes como a morfina.
No decurso de uma investigação clínica realizada na Califórnia, nos EUA, Lam observou, porém, que a maioria dos pacientes com estes dois tipos de cancro eram homens, o que o levou a decidir investigar um marcador genérico com uma associação conhecida ao cancro da próstata: o gene TMPRSS2.
“Quando o marcador TMPRSS2 está presente, o cancro da próstata é muito mais agressivo, porque o gene é sensível às hormonas masculinas”, revela Lam, em comunicado, explicando que o TMPRSS2 é capaz de entrar em contacto com os recetores nervosos do organismo, o que causa a dor.
Segundo o investigador, quando maior é este contacto, mais intensa é a dor sentida pelos pacientes, razão que conduziu a equipa a analisar outros tipos de cancro conhecidos por desencadear níveis mais reduzidos de dor, como o da mama ou o melanoma (cancro da pele).
De acordo com os cientistas, a presença e a quantidade do gene TMPRSS2 nas culturas de células cancerígenas analisadas mostraram estar em perfeita concordância com a intensidade da dor experienciada pelos doentes: quanto mais o gene se manifestava, maior era a dor, o que prova a sua influência fundamental.
Esta descoberta poderá, agora, conduzir ao desenvolvimento de novas terapêuticas para gerir a dor que bloqueiem a expressão deste gene ou o impeçam de se “infiltrar” nos recetores nervosos do organismo.
“A inibição da atividade do gene TMPRSS2 nos pacientes poderá proporcionar uma nova forma de tratamento para a dor causada pelo cancro”, congratula-se Brian Schmidt, professor da Universidade de Nova Iorque, nos EUA, e coautor do estudo publicado na revista científica Pain.
Para David Lam, a alternativa mais eficaz para atenuar a dor deverá passar pelo “ataque” à produção e expressão do gene. “Sempre que houver um cancro com sintomatologia dolorosa antes do início do tratamento, poderemos analisar as células em busca do TMPRSS2 e atuar neste marcador específico”, finaliza o investigador.
Notícia sugerida por Maria da Luz