Portugal é o "herói-surpresa" da Zona Euro no que toca à recuperação económica. É o que escreve o prestigiado jornal britânico Financial Times (FT) que, este domingo, deu destaque ao crescimento das exportações e à prosperidade do turismo.
Portugal é o “herói-surpresa” da Zona Euro no que toca à recuperação económica. É o que escreve o prestigiado jornal britânico Financial Times (FT) que, este domingo, deu destaque ao crescimento das exportações e à prosperidade do turismo em território nacional, as principais alavancas para a saída do País da recessão financeira.
“As despedidas por entre lágrimas tornaram-se uma realidade comum no aeroporto de Lisboa. Três anos de austeridade castigadora e profunda recessão desencadearam um êxodo que levou à saída de cerca de 200 jovens licenciados e outros cidadãos portugueses do País por dia”, começa o artigo do Financial Times da autoria do jornalista Peter Wise.
Porém, destaca a publicação, não muito longe, nos terminais de carga do aeroporto e nos centros comerciais sempre concorridos, conta-se uma outra história que está a transformar o país no “herói-surpresa” da recuperação na Europa: “os níveis recorde de crescimento das exportações e do turismo”.
A peça salienta “o crescimento homólogo de 1,6% [da economia portuguesa] no último trimestre de 2013”, que ultrapassou o de todos os outros membros da Zona Euro, “incluindo a Alemanha” e que, também trimestre anterior, em que o crescimento foi de 0,5%, Portugal foi apenas ultrapassado pela Holanda e “deitou por terra as previsões dos economistas, que contavam com um aumento de apenas 0,1%”.
Citado pelo FT, Christian Schulz, economista do banco alemão Berenberg, descreve Portugal como “a nova estrela em crescimento” da Zona Euro, realçando as enormes “reformas estruturais” a que a crise obrigou os países periféricos da Europa, como Portugal, no sentido de aumentar a competitividade nas exportações.
A mesma opinião é partilhada por Ralph Solveen, economista do Commerzbank, o segundo maior banco privado da Alemanha. “Portugal, e não Espanha, é a maior surpresa positiva da periferia da Zona Euro”, considera, explicando que, ao contrário do que aconteceu no país vizinho, “a taxa de desemprego já diminuiu significativamente e o emprego aumentou desde a Primavera” de 2013.
Calçado é exemplo do sucesso das exportações
O Financial Times nomeia como exemplo do sucesso das exportações e do dinamismo da economia a indústria do calçado que, através do aeroporto da Portela, envia pares de sapatos individuais a consumidores de topo, “incluindo a realeza britânica e celebridades como David Beckham ou Madona” e que aumentou, o ano passado, as vendas para o estrangeiro em 8%.
Segundo o jornal, que cita Jorge Correia, fundador da Helsar, companhia portueunse de calçado, as empresas portuguesas do sector transformaram-se “ao investir no design, na tecnologia e na marca” e, “no mundo dos sapatos, a etiqueta 'Made in Portugal' já vale quase tanto como a 'Made in Italy' em termos de prestigío internacional e de preços de fábrica”.
Artigo publicado no Financial Times descreve Portugal como o “herói-surpresa” da recuperação económica na Zona Euro
Outros sectores estão, de acordo com o artigo de Peter Wise, “a subir na cadeia de valores”, uma estratégia há muito tempo defendida por Portugal mas que só começou a tomar forma sob o pesado programa de ajuda financeira de três anos acordado com a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional em Maio de 2011.
Para o FT, o crescimento da competitividade ajudou Portugal a aumentar as exportações não só dentro da União Europeia, “onde vende 60% dos seus produtos”, mas também “em mercados em desenvolvimento, em particular o Brasil, a Rússia e os países africanos”.
“Ao mesmo tempo”, acrescenta a publicação, “as indústrias de alto valor, como as da eletrónica, engenharia mecânica e automóvel, estão também a ganhar relevância na económica, sobrepondo-se a sectores tradicionais como o têxtil e a indústria alimentar”.
Lucros recorde no sector do turismo
Ao incremento das exportações junta-se a crescente atração de turistas estrangeiros: em Julho do ano passado, quando o País se encontrava “na pior situação económica dos últimos 40 anos”, abriu no aeroporto lisboeta “uma nova área comercial 'chic' com 20 lojas” para satisfazer o crescente influxo de visitantes, somando-se recordes em termos de lucros do sector do turismo.
Apesar deste tom elogioso e dos “sinais positivos” que indicam que a economia irá emergir, ainda este ano, de três anos consecutivos de recessão, com uma previsão de crescimento de 0,8% ou mais, o FT admite que muitos portugueses continuam descrentes em melhorias imediatas na sua vida quotidiana.
“Quando voltarem, e se voltarem, os jovens emigrantes que hoje dizem adeus [a Portugal] poderão ser os melhores juízes no que toca a decidir se as mudanças alcançadas valeram o alto preço a pagar”, conclui o artigo.
Clique AQUI para aceder ao artigo publicado no Financial Times (em inglês).