Sociedade

Carta de Sousa Mendes chega ao Papa 67 anos depois

A carta remonta a 10 de Maio de 1946 e é dirigida ao Papa Pio XII. Nela, Aristides Sousa Mendes explica a razão de ter salvo os refugiados e suplica por uma palavra de conforto de Sua Santidade.
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A carta remonta a 10 de Maio de 1946 e é dirigida ao Papa Pio XII. Nela, Aristides Sousa Mendes explica a razão de ter salvo os refugiados e pede uma palavra de conforto e um gesto de apoio de Sua Santidade. 
 
“Era preciso desobedecer às ordens draconianas de Salazar mas 'cumpria a lei de Cristo'”, escreve o cônsul português na carta endereçada ao cardeal Magela tendo como destinatário final o Papa Pio XII. 
 
Segundo uma reportagem emitida esta semana pela SIC, a cópia em papel químico da carta foi descoberta no ano passado por um dos 39 netos de Aristides. Encontrava-se num dossier com correspondência da família e supostamente terá seguido por intermédio do patriarcado de Lisboa mas nunca foi obtida resposta. 
 
Na missiva, Aristides descrevia a situação em que se encontrava por ter passado vistos a cerca de 30 mil judeus refugiados, “logo que foi conhecida em Lisboa a minha ousadia fui destituído do meu posto e severamente castigado por Salazar para satisfação da displina e, como ele próprio declarou, duma reclamação de Hitler, o anti-Cristo”. 
 
Explicou ainda que tudo era do conhecimento do Cardeal Patriarca Manuel Cerejeira e do Núncio Apostólico em Lisboa. “Não há remédio para uma situação destas? Não haverá maneira de fazer justiça a quem não duvidou sacrificar-se (…) provocando os aplausos gerais pela sua atitude humanitária e acolhedora?”, pergunta Aristides Sousa Mendes na carta. 
 
A viver em situação aflitiva, Sousa Mendes pedia “misericórdia para quem não quis senão cumprir as palavras divinas e assim foi favorável aos judeus por amor a Jesus Cristo”. 
 
Em declarações à SIC, o neto de Aristides, António Moncada de Sousa Mendes, revela que “ele procurava que pelo menos o poder espiritual lhe dissesse que agiu como um verdadeiro cristão que era a grande preocupação dele”. 
 
Sem resposta, o cônsul enviou uma segunda carta um mês depois onde insistia por uma palavra do Papa, “se não andei mal em salvar os judeus das garras do anti-Cristo, faça-me Vossa Eminência a caridade de mo dizer (…) para que eu possa proclamar aos meus filhos o bem e a justiça da minha conduta para que eles possam orgulhar-se de seu pai que só quis cumprir a lei de Deus e seguir a sua consciência, como sempre”. 
 
O neto explica que este parágrafo levou a decidir que “um dia” iria fazer com “que esta carta chegasse ao Papa”. Assim, as cópias em papel químico das cartas foram esta semana entregues ao secretário pessoal do Papa Francisco. 
 
“Espero verdadeiramente que o Papa Francisco dirija uma palavra quando tiver tempo e disponibilidade para nós e para os familiares, é uma consolação espiritual”, conclui António Moncada de Sousa Mendes. 
 

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