Rachel Korman, diretora de comunicação e curadora do Carpe Diem, explica ao Boas Notícias quais são os denominadores comuns presentes nas obras de artistas tão distintos: “Um é a memória, onde trabalha o Daniel Blaufuks e o Javier Peñafiel. O outro é a questão da arquitetura e da ocupação do espaço; aí vêm a Ângela Ferreira, a Catarina Leitão e o Álvaro Negro”.
Palácio Pombal revisitado
Daniel Blaufuks, artista já premiado nos eventos BES Photo, PhotoEspaña e Loop, apresenta “A memória da memória”, onde se inserem um filme e uma série fotográfica. Ambos os trabalhos referem-se, respetivamente, às esferas pública e privada da memória.
“Nas fotografias, as memórias estão escondidas porque são latas de filmes que as pessoas fizeram para servirem de recordações, portanto só poderemos aceder a elas se abrirmos as latas e virmos os filmes que contêm. No caso do filme, é a memória do próprio espaço do Carpe Diem. No seu início está uma lata igualzinha a estas [das fotografias], que poderia ter ficado fechada e neste caso não ficou”, refere o artista ao Boas Notícias.
Por outro lado, “Monólogo jardim, palácio polifonia” trata das experiências pessoais vividas no palácio onde hoje se situa o Carpe Diem, documentadas numa animação com desenhos, fotografias e uma ópera em vídeo.
Em comunicado do Carpe Diem, Javier Peñafiel, autor da coleção, explica onde encontra a essência da sua arte: “Gosto de pensar que escrevo como se desenhasse e que desenho enquanto estou ouvindo. Pensar que os desenhos são polifónicos e encarnam uma bela ironia, porque um artista imita a voz de qualquer um”.
Arquitetura, natureza e viagem
Esta não é a primeira vez que Álvaro Negro expõe em Lisboa, tendo já exibido o seu trabalho na galeria Carlos Carvalho. O seu novo projeto intitula-se “Abro a janela e respiro o ar do fim do mundo” e, numa série de imagens que ilustram o olhar em permanente estado de passagem, cruza as dinâmicas da localização e deslocalização, do histórico e biográfico, do contemplativo e temporal, do belo e sublime.
Iniciado na cidade de Berlim, em 2007, o resultado da coleção assinada pelo artista espanhol ocupa toda a cave do Palácio Pombal.
A arquitetura como arma de intervenção política no espaço pós-colonial dá o mote a “Double Lecture” de Ângela Ferreira. Através de vídeo, fotografia e uma escultura / maquete, o público pode revisitar o período modernista e, ao mesmo tempo, conhecer o processo de pesquisa visual, conceptual e estilístico da artista nascida em Moçambique e que já exibiu alguns dos seus trabalhos em Barcelona, Londres, Chicago e Maputo.
Catarina Leitão traz as suas “Invasive Species” ao Carpe Diem e reconhece a influência deste espaço particular na sua obra: “É um espaço fortíssimo, arquitetonica e historicamente. O facto de estar assim tão degradado também tem uma presença fortíssima e tem sido muito interessante estabelecer esse diálogo entre o meu trabalho, que é muito limpo e quase minimal, com uma estrutura tão forte e tão ruidosa”.
A instalação da artista que se divide entre Lisboa e Nova Iorque foca-se em questões relacionadas com a integração da natureza no espaço construído – e vice-versa -, através de desenhos feitos em papel.
Divulgar a arte, sem fins lucrativos
Situado no número 79 da emblemática Rua de O Século, o Carpe Diem, organismo independente e sem fins lucrativos, tem vindo a trabalhar como plataforma de pesquisa, experimentação e estudos no âmbito das artes contemporâneas. A EGEAC/MCM, entidade detentora do edifício onde está instalado o organismo, é também parceira no desenvolvimento das atividades do Carpe Diem, financiadas pelo Ministério da Cultura.
Este quarto programa de exposições foi inaugurado no dia 26 de março e pode ser visto até 29 de maio, de quarta-feira a sábado, das 14h00 às 20h00. A entrada é livre.
Débora Cambé