A curadora portuguesa Ana Martins foi premiada pelo prestigiado Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque, nos EUA, pelo estudo científico de obras-primas fotográficas.
A curadora portuguesa Ana Martins foi premiada pelo prestigiado Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque, nos EUA, pelo estudo científico de obras-primas fotográficas, entre as quais obras de Henri Cartier-Bresson, que desvendaram a “história” escondida por detrás das impressões.
A notícia apanhou de surpresa a ex-professora da Faculdade de Ciências do Porto, que se encontra ligada ao MoMA há quase cinco anos e que foi informada, durante uma reunião no Museu, de que seria, este ano, a personalidade distinguida pela administração devido ao seu trabalho, a par de um outro funcionário da área do Design.
De acordo com Ana Martins, a coleção do MoMA integra, com frequência, várias impressões de um mesmo negativo e, portanto, com uma “história” e papéis fotográficos diferentes.
O trabalho da curadora, que usou uma metodologia agora aperfeiçoada, permite “em larga percentagem dos casos deduzir a data aproximada” da reprodução, a par de outras caraterísticas, abrindo caminho ao estudo comparativo “de vários artistas ou dentro do trabalho de um artista”, explica à agência Lusa.
O método em questão tem vindo a ser apresentado em conferências e revistas científicas e foi aplicada para uma exposição recente do Museu, que englobou 200 fotografias provenientes da Fundação Cartier-Bresson.
Ana Martins vai, brevemente, dedicar-se a outro projeto, que passa por estudar um acervo de fotos maioritariamente de fotógrafos russos e alemães dos anos 1920 a 1940, que inclui trabalhos de outro célebre fotógrafo, Man Ray.
“O que se pretende não é tanto datar, mas comparar as obras de vários artistas que trabalharam dentro de um determinado contexto comum, dentro da mesma escola, grupo ou corrente”, esclarece a curadora.
As fotos a analisar foram doadas pelo colecionador Thomas Walther e o projeto conta com o apoio da Fundação Mellon. O objetivo final é construir uma base de dados sobre a valiosa coleção que se debruce também sobre as técnicas e materiais utilizados.
Uma paixão antiga
A ciência da conservação artística fazia parte dos interesses de Ana Martins há muito tempo, pelo que a abertura de uma vaga no MoMA se tornou uma “oportunidade única”, a que concorreu “sem nenhuma hesitação”, confessou à Lusa.
Além de projetos de mais longo-prazo, como aquele que foi recentemente premiado, ou outros que envolvem o estudo dos materiais usados por determinado artista, a portuguesa tem também a seu cargo tarefas mais pontuais relacionadas com a conservação de obras.
O interesse pela “fronteira entre a química e a arte” nasceu de visitas que fez a museus em Paris durante o doutoramento, na década de 90. Atualmente, Ana Martins afirma estar aberta a colaborações com Portugal, onde se faz “investigação muito boa” na área, mas, para trabalhar a tempo inteiro, não se vê em nenhum outro lugar além do MoMA.
“Este museu, este lugar, esta cidade… a instituição em si é absolutamente incomparável com qualquer outra instituição no mundo inteiro”, conclui.