Paixões excessivas, marginais ou cândidas… trágicas ou com final feliz! O jornalista e escritor Alexandre Borges acaba de reeditar o seu livro “10 Histórias de Amor de Portugal”, que percorre alguns dos maiores romances vividos em português. Em entrevista ao Boas Notícias, Alexandre Borges defende que a diferença entre amor e paixão “são as tardes de domingo”.
Destas 10 Histórias de Amor, quais são as que mais o emocionam?
Emociona-me a solidão de Maria na sombra de Salazar. O arrebatamento juvenil de Saramago já sexagenário a ir de mochila às costas para Sevilha. O luto de Ernesto Sampaio que se transformou em extrema-unção. O brutal desaparecimento de Sá Carneiro e Snu (que parece mais absurdo quanto mais se pensa nele).
Há exceção do amor de Manoel de Oliveira e Maria Isabel, estas são histórias de pessoas que já cá não estão. Pensa que ainda se ama assim, loucamente, em Portugal e no mundo?
Portugal e o mundo serão hoje mais obcecados com a saúde, com a aparência física, com o número de amigos, com os likes. Terão mais pavor ao silêncio, à solidão e à privacidade. Serão mais acelerados, desfocados e superficiais. Farão demasiado ruído mas, debaixo dele, creio que o amor permanece o mesmo.
Porquê estas 10 histórias e não outras?
É o drama de todas as seleções e todos os dias nos confrontamos com ele: cada escolha que fazemos é cercada pelo que deixámos de fora. Procurei que o espetro fosse suficientemente abrangente para que pudesse constituir um pequeno painel do amor em Portugal. Do século XIV ao XXI. Da política à arte. De amores heterossexuais, homossexuais, nunca correspondidos, mais imaginários do que reais. Dos obrigatórios – Pedro e Inês – àqueles que, porventura, surpreenderão o leitor – como Manoel de Oliveira e Maria Isabel. Cedi a estas tentações. Noutro livro, porventura, cederei a outras.
Qual é para si a diferença entre paixão e amor?
As tardes de domingo. A paixão dá-se mal com as tardes de domingo – assusta-se com o vazio. Encher esse vazio com a doçura da preguiça, achar bela a nossa companhia mesmo de pijama e olheiras, amar aquelas horas entre o sofá e o tédio, apreciar o almoço desenrascado entre as sobras do armário e servido em tabuleiros como se fosse o maior dos manjares – isso só o amor.
Com base nestas histórias que o Alexandre viveu de “perto”, que conselhos deixa para viver um amor sem limites?
Se a literatura nos ensinasse a amar, as faculdades de letras teriam mais gente do que o metro em hora de ponta. Mas respondo citando os Kings of Convenience: “Love is no big truth” [“o amor não é nenhuma verdade inquestionável”, em português]. É a única conclusão a que cheguei depois de todos estes anos de intensa investigação.