Com efeito, no horizonte temporal das últimas três a quatro décadas, constata-se que a economia mundial observou um conjunto de transformações profundas, que se enquadram no processo de globalização. Nesse contexto, assistiu-se ao desenvolvimento de uma complexa teia de ligações e interconexões entre os diferentes países, que é explicado pela crescente desregulamentação, liberalização e privatização dos mercados e por notáveis avanços das tecnologias de informação, das comunicações e dos transportes, de que emergem as empresas como principal ator.
Ou seja, se outrora a empresa tinha como ponto de relevância estratégica fundamental o seu espaço nacional ou regional, vê-se agora forçada a reagir a todo o momento ao conjunto de oportunidades e ameaças que a envolvente global lhe coloca. Nesse cenário onde o jogo concorrencial se desenrola a uma escala planetária, a melhor resposta das empresas passa pela conquista de novos espaços de atuação, onde aproveite e potencie as vantagens competitivas já detidas (crescentemente sustentadas em ativos assentes no conhecimento e baseados em mecanismos de inovação tecnológica e organizacional), desenvolvendo em simultâneo novas vantagens que possibilitem contornar as limitações com que se depare no país de origem. A projeção da sua atividade para o exterior não se restringe assim às grandes empresas mas envolve um número exponencial de PME, deixando de constituir uma mera opção para se transformar numa verdadeira questão de sobrevivência e que obedece a novas motivações como sejam a obtenção de economias de escala, beneficiar de efeitos de aprendizagem ou adquirir um novo posicionamento competitivo decorrente da atuação em várias “plataformas”.
Consequentemente, a forma de entrada no país de destino constitui uma das decisões estratégicas mais críticas para o processo de internacionalização da empresa, deparando-se-lhe diferentes opções que implicam um trade-off entre grau de exposição ao risco e comprometimento de recursos nos mercados externos. Iniciando-se normalmente pela via da exportação, as empresas tendem a evoluir para formas mais avançadas de operação internacional mediante o licenciamento de tecnologia e/ou uma determinada marca, e a optar subsequentemente pelo investimento direto (com objetivo de assumir um grau significativo de influência na gestão de uma empresa no estrangeiro, com uma perspetiva de explorar a longo prazo os recursos aplicados), ainda que mais recentemente se diluam as fronteiras entre estas modalidades de internacionalização, assistindo-se a investimentos cruzados ou alianças estratégicas entre empresas de diferentes países, que se expressam em acordos de cooperação industrial ou comercial com vista à obtenção de um benefício mútuo.
Ora, num contexto de acentuado acréscimo de concorrência tanto no seio da União Europeia como a nível global (face à emergência do “gigante chinês), deve afirmar-se sem tibiezas que o desempenho da economia portuguesa depende significativamente da sua inserção neste processo de expansão além-fonteiras. Essa evolução é constatada no reforço da intensidade exportadora das empresas nacionais (que ultrapassa 40% da produção) e na diversificação dos respetivos mercados de destino, com uma intensificação tecnológica dos produtos exportados que reflete o enfoque colocado na inovação e diferenciação, da mesma forma que se assiste a um fluxo ascendente de investimento direto no exterior que atingiu volumes de capital sem precedentes, com a deslocalização crescente para mercados extra-comunitários, como os PALOP e o Brasil. Tendo presente que não constitui um fenómeno transitório mas um movimento ilustrativo da gradual participação do nosso tecido empresarial nas cadeias internacionais de valor, importa pois consolidar e sedimentar esta trajetória, que uma vez acompanhada pela (re)captação de investimento estrangeiro estruturante, poderá direcionar Portugal no rumo certo. Assim esteja o país à altura deste desafio.
Miguel Fonseca
Professor Auxiliar da Faculdade Economia da Universidade Porto, Investigador/Especialista em internacionalização e integração europeia
O conteúdo A internacionalização como desígnio estratégico e propulsor da competitividade de Portugal aparece primeiro em i9 magazine.