O café é uma das bebidas mais consumidas em todo o mundo. Nas últimas décadas têm-se multiplicado os trabalhos científicos com o objetivo de determinar o potencial impacto deste hábito nos nossos padrões de saúde das populações.
Apesar de a cafeína ser o componente maioritário do café enquanto bebida, e aquela com maior efeito no metabolismo, outros constituintes têm mostrado um papel de destaque. O café é de facto, uma importante fonte de antioxidantes, particularmente de ácido clorogénico, que já demonstrou estar implicado nas vias de proteção contra o desenvolvimento de alguns tipos de tumores e de diabetes tipo 2.
Vários trabalhos têm mostrado resultados consistentes quanto ao mecanismo protetor do café no desenvolvimento de diabetes tipo 2, verificando-se uma redução de 25% com a ingestão de 3 a 4 porções por dia. Este risco diminui à medida que o consumo de café aumenta até um consumo máximo de 6 a 8 cafés por dia.
No âmbito das doenças neurodegenerativas, inúmeros estudos epidemiológicos que mostram uma relação inversa entre o consumo de café e o risco de desenvolver doença.
Particularmente na Doença de Parkinson, a cafeína é apontada como o principal responsável por este mecanismo protetor ao bloquear os receptores A2A de adenosina existentes em áreas cerebrais ricas em dopamina.
Estudos animais demonstram que a cafeína é capaz de atenuar os efeitos da depleção de dopamina em algumas áreas cerebrais, assim como potenciar o efeito do tratamento com levodopa, o principal tratamento atualmente utilizado no tratamento da Doença de Parkinson.
Outro campo que tem mostrado resultados promissores é o papel hepatoprotetor conferido por alguns antioxidantes presentes no café. Indivíduos com maior consumo de café mostram uma evolução mais lenta da fibrose hepática,principalmente na hepatopatia alcoólica. A associação entre o consumo moderado de café e o atraso da evolução para doença hepática grave, foi também observada em pacientes por doença hepática não alcoólica, nomeadamente hepatite C ou esteatose hepática.
Também o potencial carcinogénio do café tem sido também alvo de investigação, sendo que a evidência científica atual sugere que o consumo moderado não esteja associado a um risco aumentado de neoplasias. Pelo contrário, alguns estudos demonstram que um consumo moderado e regular associa-se a uma redução do risco de certos tipos de tumores, nomeadamente hepatocarcinoma e carcinoma do endométrio.
É importante ressalvar a segurança em alguns grupos considerados mais vulneráveis aos efeitos da cafeína, nomeadamente, grávidas, crianças, indivíduos hipertensos ou com sensibilidade aumentada aos efeitos da cafeína.
Assim, o consumo moderado e regular de café, na proporção de 3 a 5 porções diárias (300-400 mg de cafeína), quando enquadrado num ambiente de estilos de vida saudável, não acarreta efeito nocivo, mostrando até um papel protetor no aparecimento de algumas doenças crónicas e no atraso da evolução das mesmas.