Ter quatro livro de poesia aos 22 anos, já é "obra", mas se pensarmos que além disso Nuno F. Silva transporta consigo o desafio da paralisia cerebral, esta conquista torna-se ainda mais impressionante
Metamorphosis
Que seja alva a morte do poeta
como o silêncio da madrugada.
Mostrem-lhe a luz em graça
pois dedicou a vida
a estudar o relevo das sombras
e tacteou sempre as rosas
pelo lado soturno do deslumbramento.
Este é apenas um dos poemas que dão vida às páginas do livro “
Lunescer“, a mais recente obra de Nuno F. Silva. Com apenas 22 anos, este jovem natural de Paredes, Douro-litoral, acaba de editar o seu quarto livro de poesia, com selo da editora Lua de Marfim.
Ter quatro livros de poesia aos 22 anos, já é “obra”, mas se pensarmos que além disso Nuno F. Silva transporta consigo o desafio da paralisia cerebral, esta conquista torna-se ainda mais impressionante embora, para o jovem poeta, o processo tenha sido “muito natural”.
“Comecei a escrever poesia com 15 anos, quando senti que tinha alguma coisa para dizer ao mundo. Não é que achasse que o mundo me deveria ouvir, simplesmente não podia deixar certas coisas morarem dentro de mim. No fundo foi algo muito natural”, conta Nuno F. Silva ao Boas Notícias.
A notícia do terceiro livro de Nuno F. Silva, “Frágil”, lançado em edição de autor, despertou a curiosidade de Paulo Afonso, editor da Lua de Marfim, que contactou o jovem para saber se ele tinha mais algum material original por editar.
“O Nuno enviou-me uma série de poemas para analisar, sem compromisso. Eu gostei imenso do que li e decidi avançar para este livro”, conta Paulo Afonso ao Boas Notícias.
Poesia “foi o meu segundo nascimento”
O poeta tinha, de facto, mais material na gaveta e assim, com uma distância de poucos meses em relação ao livro anterior, acaba de editar o seu quarto livro de poesia.
Nuno F. Silva admite que o desafio da paralisia cerebral está presente na sua poesia “porque tudo aquilo que criamos é fruto do que somos” mas garante que os seus poemas vão muito para além disso.
A minha poesia “reflete uma evolução de mim, não só no campo literário. É uma evolução da minha humanidade, do meu pensamento, e por consequência dos meus estados de espírito, da minha visão de mundo”. “Dizem que nascemos e morremos muitas vezes durante a vida, começar a escrever foi talvez o meu segundo nascimento”, sublinha o poeta.
Ultrapassar o receio de ouvir um “não”
Nuno F. Silva admite que editou os livros anteriores em edição de autor porque se sentia inseguro para apresentar a sua obra a uma editora. “Há sempre a sensação de que não somos suficientemente bons. O receio de ouvir um não”, admite.
Contudo, Nuno encontrou na poesia aquilo que “todos devemos encontrar na vida”, ou seja, “aquilo que nos dá a vontade de viver o dia seguinte”. Por isso, o poeta deixa um conselho a todos aqueles que hesitam na hora de seguir um sonho. “Que arrisquem, pois só saberemos se somos bons em determinada arte se arriscarmos. E, mais importante: nunca deixarmos que nos digam que aquilo em que acreditámos não vale a pena. Nunca!”.
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