Astrónomos do Observatório Europeu do Sul conseguiram a maior evidência observacional direta feita até hoje que comprova a teoria de que as galáxias atraem e devoram material próximo de modo a crescerem e formarem estrelas.
Astrónomos do Observatório Europeu do Sul (ESO) descobriram, com o auxílio do poderoso telescópio Very Large Telescope (VLT), uma galáxia distante a alimentar-se vorazmente do gás que se encontra nos seus arredores. Esta é a maior evidência observacional direta feita até hoje a comprovar a teoria de que as galáxias atraem e devoram material próximo de modo a crescerem e formarem estrelas.
Os resultados do estudo, publicados esta sexta-feira na revista Science, dão conta de observações que mostram o gás a cair em direção à galáxia, o que cria um fluxo que alimenta a formação estelar ao mesmo tempo que impulsiona a rotação da galáxia, explica um comunicado do ESO.
Embora sempre tenham suspeitado que as galáxias crescem atraindo para si o material do meio circundante, os astrónomos têm tido muitas dificuldades em observar diretamente este fenómeno. Com o VLT, porém, foi agora possível estudar um alinhamento muito raro entre uma galáxia longíqua e um quasar (o centro extremamente brilhante de uma galáxia alimentado por um buraco negro de elevada massa) ainda mais longínquo.
A radiação emitida por este quasar passa através da matéria que circunda a galáxia antes de chegar à Terra, o que, de acordo com os astrónomos, permite explorar em detalhe as propriedades deste material. Consequentemente, estes novos resultados deram aos cientistas a melhor visão de sempre de uma galáxia “em pleno repasto”.
“Este tipo de alinhamento é muito raro e permitiu-nos fazer observações únicas”, congratula-se Nicolas Bouché, o autor principal deste estudo, investigador do Instituto de Investigação de Astrofísica e Planetologia (IRAP, na sigla em francês) em Toulouse, França.
“Usámos o Very Large Telescope do ESO para observar tanto a galáxia propriamente dita, como o gás que a rodeia, o que nos permitiu abordar um problema importante na formação galáxia: como é que as galáxias crescem e formam estrelas”, esclareceu o especialista.
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Veja acima uma animação divulgada pelo ESO que retrata o “momento da refeição” de uma galáxia a alimentar-se do gás que a rodeia
Galáxia analisada tem “apetite devorador”
À medida que formam estrelas, as galáxias esgotam depressa o seu reservatório de gás, o que exige que se reabasteçam de forma contínua para poderem continuar a produção estelar. Graças às novas observações, a equipa conseguiu entender como a galáxia roda e qual é a composição do gás situado no exterior da mesma, bem como o seu movimento.
“O gás move-se como esperado, a quantidade existente é também a esperada e tem a composição certa para ajustar os modelos de forma perfeita. É como a hora de comer dos leões no jardim zoológico. Esta galáxia em particular tem um apetite devorador e nós descobrimos como se está a alimentar de modo a crescer tão depressa”, notou Michael Murph, co-autor do estudo, da Swinburne University of Technology, na Austrália.
No passado, os investigadores já tinham descoberto evidências de material em torno de galáxias no Universo primordial, mas esta foi a primeira vez que conseguiram provar com clareza que este material se desloca para o interior e não para o exterior das mesmas, tendo tambem determinado a composição deste “combustível” para futuras gerações de estrelas.
“Neste caso tivemos sorte em ter um quasar mesmo no lugar certo para que a sua luz passasse através do gás que se encontra a cair em direção à galáxia. A próxima geração de telescópios extremamente grandes permitirá fazer este estudo com múltiplas linhas de visão por galáxia, fornecendo assim uma visão muito mais completa”, conclui outra das co-autoras, Crystal Martin, da Universidade da Califórnia – Santa Barbara, nos EUA.
Clique AQUI para aceder ao resumo do estudo publicado na revista científica Science (em inglês).