Investigadores norte-americanos anunciaram, este domingo, a cura funcional do primeiro bebé nascido com HIV (vírus da imunodeficiência humana, VIH na sigla em português), uma vitória que poderá melhorar o tratamento das crianças infetadas.
Investigadores norte-americanos anunciaram, este domingo, a cura funcional do primeiro bebé nascido com HIV (vírus da imunodeficiência humana, VIH na sigla em português), uma vitória que poderá melhorar o tratamento e a qualidade de vida futura das crianças infetadas desde o nascimento.
O anúncio foi feito durante a 20ª Conferência Anual de Retrovírus e Infecções Oportunistas, que decorreu em Atlanta, nos EUA.
Durante o evento, a equipa explicou que se trata de uma “cura funcional” e não de uma cura completa, porque o vírus não foi totalmente erradicado. Em vez disso, esclareceram os cientistas, a sua presença foi reduzida até níveis muito baixos, o que permite ao organismo controlá-lo sem a necessidade de fármacos.
Até ao momento, o único caso de eliminação total do vírus da SIDA é o do chamado “paciente de Berlim”, o norte-americano Timothy Brown que foi considerado curado de HIV e leucemia cinco anos depois de receber transplantes de medula de um dador com uma resistência natural e rara ao vírus, revela a AFP.
A bebé tratada pelos investigadores do Johns Hopkins Children's Center em Baltimore, porém, não foi submetida a quaisquer procedimentos do género, tendo-lhe apenas sido administrados medicamentos antirretrovirais comuns. A diferença em relação a casos anteriores foi a dosagem e o 'timing' desta administração, que começou menos de 30 horas após o nascimento.
“A terapia que começa pouco tempo após o parto pode ajudar as crianças a eliminar o vírus e a conseguir uma remissão a longo-prazo sem necessidade de tratamento durante toda a vida, prevenindo a formação dos reservatórios virais [que são difíceis de eliminar e 'relançam' a infeção no organismo depois de o tratamento ser interrompido]”, apontou Deborah Persaud, coordenadora da investigação, citada pela AFP.
Terapia precoce terá sido determinante
Segundo Persaud, esta é a primeira vez a nível mundial que os cientistas conseguem algo semelhante num bebé. Normalmente, o protocolo seguido pelos médicos com bebés com alto risco de infeção é a administração de pequenas doses de antirretrovirais até que sejam conhecidos os resultados dos testes sanguíneos às seis semanas de idade.
No caso da menina agora submetida à terapia, que tinha sido infetada pela mãe seropositiva, o tratamento começou ainda antes de os resultados dos testes terem sido revelados, o que terá sido determinante.
Os testes efetuados revelaram que os níveis da presença do vírus no sangue da bebé diminuíram significativamente com o tratamento precoce, até deixarem de ser detetados 29 dias após o nascimento. A criança foi, depois, tratada com antirretrovirais até aos dois anos e meio e a terapia foi interrompida durante os 10 meses seguintes.
Após este período, os investigadores voltaram a fazer exames sanguíneos à menina e constataram que nenhum deu resultados positivos para o vírus da SIDA.
Para os cientistas e especialistas em HIV, este caso é um sinal de esperança, já que prova que uma terapia antirretroviral precoce em recém-nascidos pode fazer com que, a longo-prazo, o sistema imunitário dos pacientes consiga controlar o vírus e mantê-lo em níveis clinicamente indetetáveis.
“O nosso próximo passo é descobrir se esta é somente uma resposta muito rara a uma terapia precoce com antirretrovirais ou se de facto é possível replicar este sucesso noutros recém-nascidos em risco”, concluiu Persaud, cuja investigação foi financiada pelos National Institutes of Health e a American Foundation for AIDS Research.
[Notícia sugerida por Raquel Baêta, Patrícia Guedes, Elsa Martins, Ana Oliveira, David Ferreira e Diana Rodrigues]