A investigação realizada por uma equipa do centro Gladstone Institutes revelou que esta dieta atrasa o processo de envelhecimento e pode, também, ajudar os médicos e cientistas a tratar e a prevenir doenças associadas à idade, como as doenças vasculares, a doença de Alzheimer e vários tipos de cancro.
Os investigadores, liderados por Eric Verdin, perceberam que há um composto químico – o chamado β-hydroxybutyrate (βOHB) – que consegue proteger as células da oxidação desempenhando um papel fundamental na prevenção do envelhecimento.
No estudo, publicado na edição de Dezembro do jornal Science, Eric Verdin e a sua equipa explicam que o βOHB, que faz parte dos compostos conhecidos como “corpos cetónicos”, é produzido pelo corpo durante uma dieta prolongada baseada em baixas calorias e poucos hidratos de carbono, ou seja, aquilo a que se chama a “dieta cetogénica“.
Os investigadores explicam que, embora os corpos cetónicos como o βOHB possam ser tóxicos quando se apresentam em concentrações demasiado elevadas – como acontece nas pessoas que sofrem de diabetes tipo I – este mesmo composto, se estiver presente em concentrações baixas e controladas, ajuda a proteger as células do “stress oxidativo” que contribui para o envelhecimento do corpo.
“Já se sabia, graças a estudos anteriores, que a restrição calórica atrasa o processo de envelhecimento e prolonga a longevidade mas ainda não tinha sido identificado o mecanismo que conduzia a este efeito”, explica Eric Verdin, que é o diretor do centro de estudos para o VIH e Envelhecimento de Gladstone e professor da Universidade da Califórnia.
O composto βOHB é a principal fonte de energia do corpo durante o período em que se pratica exercício físico ou jejuns mais prolongados. Nas experiências feitas em ratinhos de laboratório, a equipa monitorizou as alterações bioquímicas dos animais durante uma dieta de baixas calorias, e verificou que esta dieta provocava o aumento dos níveis de βOHB.
Por sua vez, o βOHB inibe a atividade de uma classe de enzimas, as “histone deacetylases” (HDACs) que impedem o funcionamento de dois genes – conhecidos como Foxo3a e Mt2 – responsáveis por ajudar as células a travar a oxidação. Ao bloquear as HDCAs, o composto βOHB ativa, indiretamente, este dois genes “anti envelhecimento”.
Tratamento e prevenção de doenças neurológicas
“Esta descoberta traz um grande progresso na nossa compreensão do mecanismo que está por detrás das HDACs, que já se sabia serem responsáveis pelo envelhecimento e por várias doenças neurológicas”, disse Katerina Akassoglou, uma das investigadoras envolvidas no estudo.
“Estas conclusões podem ser relevantes para uma série de doenças neurológicas – como a doença de Alzheimer, Parkinson e autismo – que afetam milhões de pessoas e para as quais ainda não há tratamentos eficazes”, acrescenta a investigadora.
À medida que a esperança média de vida da população mundial vai aumentando, este tipo de descobertas revelam-se fundamentais para manter os cidadãos sénior ativos e saudáveis.
Em Portugal, a esperança média de vida já chegou aos 80 anos de idade, sendo que as principais causas de morte continuam a ser as doenças cardiovasculares e o cancro, doenças que causam sérios danos emocionais nas famílias e que resultam em elevadas despesas financeiras para tanto para as famílias como para o Sistema Nacional de Saúde.
Clique AQUI para aceder ao comunicado de imprensa do Gladstone Institutes e AQUI para consultar o resumo do artigo da Science (em inglês).