19 investigadores, um robô submarino, 48 dias. São estes os principais elementos da equipa da Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) que se encontra, neste momento, ao largo dos Açores, a caminho da fractura de Hayes, uma fissura localizada 500 milhas a sudoeste do arquipélago e que atravessa a cadeia de montanhas submarinas Dorsal Médio-Atlântica.
Esta campanha oceanográfica tem por objetivo enriquecer a proposta para a Extensão da Plataforma Continental portuguesa apresentada, em 2009, à Comissão de Limites de Plataformas Continentais (CLPC) da ONU de maneira a estender as atuais fronteiras marítimas de Portugal. Atualmente, o território marítimo português corresponde a uma área de 1.8 milhões de quilómetros quadrados (que incluem a parte emersa, o mar territorial e a Zona Económica Exclusiva até às 200 milhas).
No entanto, caso a missão seja bem-sucedida, aumentam as probabilidades da proposta submetida à ONU ser aceite e o território marítimo português poderá passar a ter cerca de 4 milhões de quilómetros quadrados, o que “equivale a 91% da área emersa da União Europeia”, explica a equipa da EMEPC ao Boas Notícias, numa entrevista via email.
Maior exploração e aproveitamento de recursos
Para isso, a equipa que segue a bordo do navio Almirante Gago Coutinho, da Marinha, está a contar com a ajuda do sofisticado ROV (sigla de “Remotely Operated Vehicle”) Luso que vai mergulhar ao longo dos 4.500 metros de profundidade da fratura de Hayes, recolhendo rochas, sedimentos e outros elementos que possam demonstrar a continuidade geológica daquela zona relativamente aos Açores e, consequentemente, a Portugal.
Em declarações ao Boas Notícias, a equipa da EMEPC explica que esta missão tem uma grande “relevância” uma vez que “Portugal tem direitos exclusivos de soberania sobre a plataforma continental, para efeitos de exploração e aproveitamento dos seus recursos naturais vivos e não-vivos [como a captura de peixe, a recolha de amostras biotecnológicas ou a exploração de eventuais combustíveis fósseis e minerais] do leito do mar e subsolo”.
Tendo em consideração variados fatores – como o número de propostas de vários países pendentes e o grau de complexidade de cada uma – a EMEPC não espera que o comité da ONU consiga dar um parecer sobre a proposta portuguesa antes dos próximos três anos.
Luso permite aceder a 98% do mar português
Apesar de o ROV Luso estar “destacado”, sobretudo, para o projeto de extensão da plataforma continental, a equipa salienta que este sofisticado equipamento representa uma enorme mais-valia em termos científicos: “conhecemos tão pouco os fundos oceânicos, que cada mergulho do ROV constitui para a equipa da EMEPC e para os cientistas de diferentes disciplinas que com ela colaboram – geologia, geofísica e biologia, entre outras – um mundo de surpresas”.
Assim, a aquisição do Luso – um dos poucos robôs submarinos existentes em todo o mundo – constituiu “um passo estratégico muito importante porque permite que Portugal tenha acesso, apenas com meios nacionais, até aos 6.000 metros de profundidade do seu mar, o que representa cerca de 98% do espaço sobre os quais o nosso país exerce direitos de soberania ou jurisdição”.
A missão da fratura Hayes arrancou no final de Agosto, ao largo de Setúbal, e contou com a presença da ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território, Assunção Cristas. Nesse altura, o Luso fez um teste de mergulho de 1.000 metros de profundidade durante o qual colaborou, também, com o projeto científico “Carcace” que estuda a decomposição de mamíferos – como as baleias – no fundo dos oceanos e a sua importância para os ecossistemas marinhos.
Neste mergulho, o Luso deu um importante contributo para o projeto liderado pela investigadora Ana Hilário ao recolher imagens e amostras de seis carcaças de bovinos – lançadas ao mar em Agosto do ano passado, no âmbito da investigação – que forneceram “informações de grande interesse para a ciência”.
Clique AQUI para aceder ao Facebook da EMEPC e AQUI para visitar o site oficial da missão. AQUI pode acompanhar o processo da proposta portuguesa no site da Comissão de Limites de Plataformas Continentais da ONU.