Uma menina de 10 anos que sofria de um grave bloqueio venoso tornou-se a primeira em todo o mundo a receber, uma veia "criada" em laboratório com as suas próprias células estaminais.
Uma menina de 10 anos que sofria de um grave bloqueio venoso tornou-se a primeira em todo o mundo a receber, por meio de um transplante, uma veia “criada” em laboratório com as suas próprias células estaminais. A cirurgia histórica tem como principal benefício a não existência de risco de rejeição pelo organismo, evitando-se a toma vitalícia de medicamentos imunossupressores.
A operação, realizada em Março do ano passado, foi dada agora conhecer na revista médica The Lancet e marca um avanço sério na procura de alternativas para a criação de órgãos e tecidos do corpo humano.
“Estou muito otimista e acredito que, num futuro próximo, teremos possibilidade de transplantar veias e artérias em larga escala”, afirmou Suchitra Sumitran-Holgersson, coordenadora da equipa sueca que efetuou o procedimento e professora da Universidade de Gotemburgo.
Para proceder ao transplante, os médicos começaram por retirar a uma veia ilíaca de nove centímetros colhida de um cadáver todas as suas células vivas, conservando somente o “tubo” formado pela estrutura proteica subjacente. Depois, injetaram nessa estrutura células estaminais provenientes da medula óssea da jovem doente, tornando a veia “compatível” com o seu organismo e, duas semanas depois, avançaram para a cirurgia.
Imediatamente após o transplante o fluxo normal na veia em questão – a veia porta hepática, que leva o sangue dos intestinos e do baço até ao fígado e cujo bloqueio pode ser fatal – foi restabelecido e não houve quaisquer complicações pós-operatórias.
Os bons resultados começaram a notar-se logo durante o ano que se seguiu, já que a menina ganhou seis centímetros de altura e engordou cinco quilos.
Técnica precisa de ser aperfeiçoada
Sumitran-Holgersson avisa que a técnica ainda precisa de ser aperfeiçoada, isto porque, nove meses depois do transplante, os cirurgiões tiveram de proceder a uma nova intervenção para tratar parte do tecido que, com o tempo, ficara rígida.
Mesmo assim, graças à técnica inovadora, a menina encontra-se de boa saúde, consegue fazer exercícios leves e andar a pé sem problemas e, além disso, está livre da obrigação de tomar imunossupressores para evitar a rejeição da veia, uma vez que esta “nasceu” a partir das suas células.
Entretanto, a equipa responsável pela cirurgia inédita simplificou o processo, conseguindo colher células a partir do sangue e não apenas da medula, e espera testar a utilização do mesmo método em artérias ainda este ano.
De realçar que, por todo o mundo, o campo da chamada medicina regenerativa tem ganho cada vez mais adeptos, com muitos especialistas a estudar para desenvolver diferentes órgãos e tecidos humanos em laboratório, entre eles pulmões e corações.
Clique AQUI para aceder ao artigo publicado na The Lancet (em inglês).