O grupo de teatro A Comuna está prestes a completar 40 anos. Para marcar quatro décadas de "dramaturgia de rutura" estreia esta quinta-feira, em Lisboa, no Teatro São Luiz, a peça "A controvérsia de Valladolid".
O grupo de teatro A Comuna está prestes a completar 40 anos. Para marcar quatro décadas de “dramaturgia de rutura” estreia esta quinta-feira, em Lisboa, no Teatro São Luiz, a peça “A controvérsia de Valladolid”.
“A peça fala de democracia, de nós e dos direitos dos outros”, disse à Lusa João Mota, que a encenou e é um dos fundadores do grupo de Teatro de Pesquisa A Comuna, com sede na praça de Espanha (Lisboa).
A história d'A Comuna também se regeu, desde o início, pelos mesmos princípios: “a comunidade natural dos criadores sem escalões diferenciados no salário, nas responsabilidades, uma relação frontal com a outra comunidade, os espetadores”, adiantam os representantes do grupo no website oficial.
Recusaram-se desde início a receber subsídios do Estado e tiveram o primeiro financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian. Percorream Portugal “de lés a lés” e, a partir de 1973, cruzaram as fronteiras portuguesas para mostrar o seu trabalho um pouco por todo o mundo. Em 1974 e 75 foram pioneiros nas Campanhas de Dinamização Cultural do MFA.
“A Comuna orgulha-se de estar viva e de continuar a ser um espaço permanente de Pesquisa de um Teatro Vivo, dramaturgia de rutura, espaço de nascimento e crescimento de novos atores e autores, um laboratório permanente em consonância com um público que conhecemos já em terceira geração, e que sabe que cada vez que vem à nossa Casa é para partilhar um espaço que também lhe pertence”, escrevem na sua página online.
Peça fala sobre a alma dos nativos norte-americanos
A peça apresentada a partir de hoje no São Luiz passa-se em Valladolid, no século XVI, cenário de um debate entre o frade beneditino Bartolmeu de las Casas e o filósofo Juan Ginés de Sepúlveda, sobre a natureza da alma dos nativos norte-americanos.
“A peça coloca em confronto las Casas, que defende que os povos são todos iguais, porque em todos corre o sangue de Cristo, e logo os índios são pessoas iguais a todas as outras, e o estudioso Sepúlveda, um rato de biblioteca, que riposta afirmando que os índios não têm uma alma com qualidade, são idênticos aos animais, a não ser que se convertam ao catolicismo”, diz o encenador à Lusa.
“Apesar de se ter passado no século XVI, é de uma atualidade impressionante, porque também hoje, infelizmente, em pleno século XXI, continuamos com uma Europa dos ricos e a dos pobres – dentro de cada país os pobres são cada vez mais miseráveis e os que não eram pobres passam a ser”, afirmou João Mota.
O ator Carlos Paulo é Bartolomeu de las Casas, Virgílio Castelo desempenha Sepúlveda e Álvaro Correia o cardeal. O restante elenco é constituído por Carlos Vieira D'Almeida, Carlos Paniágua, Alexandre Lopes, Miguel Sermão, Mia Farr, Pessoa Júnior e as crianças João Marços e Ruben Carvalho.
O encenador Jean-Claude Carrière, 80 anos, trabalhou com o cineasta Luis Buñuel, sendo o argumentista de “Belle du jour” e “O charme discreto da burguesia”, entre outros filmes, e com Peter Brook, altura em que João Mota o conheceu.
Como habitualmente, na noite de 30 de abril para 01 de maio, A Comuna vai ainda realizar “uma grande festa” na Praça de Espanha.
Para outras informações sobre a peça, consulte o site do São Luiz, AQUI. Clique AQUI para aceder ao site d'A Comuna.