Durante dia e noite, os minhotos ofereciam comida e bebida aos dez mil membros dos serviços de emergência e voluntários que trabalharam nos resgates do World Trade Center.
No entanto, os quatro luso-americanos passaram recentemente a três, após a morte do marido de Rosalina Branco, de 50 anos. O casal morava por cima da sua mercearia, com vista para as Torres Gémeas.
“O meu marido contribuiu muito para isto”, disse à Lusa Rosalina que, juntamente com o marido, se levantava de madrugada para atender polícias e bombeiros que tocavam à campainha para lhes dar “água do Luso”, café, chá, sumos ou sandes.
“Ele ficava a fazer sandes até às quatro e cinco da manhã. Quando os empregados chegavam ainda ele estava aqui”, recordou.
“Trabalhávamos só para eles”
Alcina, irmã mais velha de Rosalina, e Rui, o seu marido, também eram donos da mercearia. “Tudo fechou. Nós fomos os únicos abertos aqui na área”, disse Alcina. ” Eu e a minha irmã chorávamos e queríamos ir embora. O meu marido e o meu cunhado é que não quiseram fechar”, completou.
Mas Rui respondeu: “Sempre abertos. Fechar para quê? Precisavam da gente. Não havia nada aqui”. “Tínhamos ali as coisas a estragar, o leite a estragar. Fechar para quê? Ia tudo por água abaixo? Ao menos deram para eles. Trabalhávamos só para eles. Comida, tudo o que havia de carnes, sandes, bebidas”, recordou.
Segundo a Lusa, o casal calcula ter servido mais de 300 pessoas por dia, mais de 4.000 em duas semanas. Não cobravam aos que estavam envolvidos na emergência.
Recompensas pelo esforço
A recompensa por esses dias veio também de uma forma material, que Alcina atribui a Deus. Com a circulação condicionada, a mercearia passou a ser ponto de passagem para milhares de pessoas a caminho do trabalho. “Fomos o centro do negócio. Fizemos dinheiro como nunca tínhamos feito”, disse Rui.
Mas a recompensa não foi só essa. Um dia entraram-lhes pela porta polícias “com o maioral deles”. Deixaram uma placa que agradecia a ajuda, que ainda hoje está por cima do balcão. Também o Consulado de Portugal em Nova Iorque enviou uma carta de reconhecimento.
Agora, esta é uma mercearia bastante invulgar em Manhattan: a completar a enorme bandeira portuguesa, o Grand Street Deli tem uma placa de
homenagem da Polícia de Nova Iorque.
“O que fizemos foi feito com tanta vontade que nunca nada fez falta à gente”,
disse Rosalina.