Em 1938, a alemã Ingeborg Syllm-Rapoport foi impedida de defender a sua tese de doutoramento por ser descendente de judeus. Agora, com 102 anos, a médica neonatologista recebeu, finalmente, o seu diploma.
Em 1938, a alemã Ingeborg Syllm-Rapoport foi impedida de defender a sua tese de doutoramento por ser descendente de judeus. Agora, com 102 anos, a médica neonatologista recebeu, finalmente, o seu diploma durante uma cerimónia em Hamburgo, na Alemanha.
Syllm-Rapoport era aluna da Universidade Clínica de Hamburg-Eppendorf, na Alemanha, quando, aos 25 anos, na altura em que se preparava para defender uma dissertação acerca da difteria, foi proibida pelos nazis de realizar a prova oral que lhe asseguraria o grau de doutora.
Este ano, quase oito décadas depois, a universidade germânica decidiu tentar repor a justiça e entrou em contacto com a médica, atualmente a residir em Berlim, para a convidar a submeter-se ao exame que faltava.
Avaliada por três especialistas na sua própria casa, Syllm-Rapoport passou com distinção e, esta terça-feira, recebeu o certificado que há muito lhe era devido. “Depois de quase 80 anos foi possível restaurar um pouco a justiça”, disse Burkhard Goeke, diretor médico do hospital da universidade, durante a cerimónia, citado pela Associated Press.
“Não podemos desfazer as injustiças que foram cometidas, mas são os nossos olhares sobre o passado que enformam a nossa perspetiva do futuro”, acrescentou Goeke.
Em entrevista à estação televisiva alemã NDR, Syll-Rapoport admitiu que, para si, pessoalmente, “o grau não significa nada”. Ainda assim, explicou que não hesitou em aceitar “o esforço que foi terminar os estudos” numa idade tão avançada “em nome de um grande objetivo: fazer as pazes com a história”.
Neonatologista concluiu os estudos nos EUA
Depois de chegarem ao poder, em 1933, os Nazis expulsaram os judeus de universidades e escolas e proíbiram-nos de exercer um sem número de profissões antes de os deportar e assassinar nos campos de concentração espalhados pela Europa.
Em 1938, quando Syllm-Rapoport entregou a sua tese de doutoramento, o orientador Rudolf Degkwitz disse-lhe que a aceitaria “se não fossem as leis da raça dos Nazis, que tornavam impossível a sua admissão ao doutoramento”.
No mesmo ano, a médica acabou por emigrar para os EUA, sem terminar o curso. Depois de se candidatar a várias universidades norte-americanas, Syllm-Rapoport finalizou os estudos em Filadélfia e ali trabalhou como pediatra até 1952, data em que regressou a Berlim com o marido.
Desde então, a recém-doutorada, mãe de quatro filhos, trabalhou como chefe do serviço de neonatologia do hospital universitário Charité, na capital alemã.