Uma estirpe geneticamente modificada do vírus do herpes é capaz de travar a progressão do cancro da pele, matando as células cancerígenas e incentivando o sistema imunitário a combater os tumores.
Uma estirpe geneticamente modificada do vírus do herpes é capaz de travar a progressão do cancro da pele, matando as células cancerígenas e incentivando o sistema imunitário a combater os tumores. A conclusão é de uma investigação pioneira com pacientes reais que envolveu cientistas de todo o mundo.
Pela primeira vez, os especialistas, coordenados por uma equipa britânica do Institute of Cancer Research e da Royal Marsden NHS Foundation Trust, em Inglaterra, obtiveram benefícios efetivos com a utilização da imunoterapia viral num ensaio clínico de fase III com humanos.
A nova terapêutica, denominada “T-VEC”, consiste numa estirpe modificada do vírus do herpes simples tipo 1, que é capaz de se multiplicar no interior das células cancerígenas e de as “rebentar” a partir do interior, incitando, ao mesmo tempo, o sistema imunitário a atacar e a destruir os tumores.
Para o fazer entrar em ação contra o cancro, os cientistas retiraram ao vírus dois genes fundamentais, impedindo a sua replicação nas células saudáveis e limitando a sua ação às células doentes que, devido à infeção e aos erros genéticos, são mais vulneráveis, explica um comunicado divulgado pelo instituto britânico.
A equipa recrutou, depois, 436 pacientes com melanoma maligno agressivo e inoperável, que, para o ensaio clínico, foram divididos de forma aleatória: parte deles recebeu uma injeção da nova terapia viral, ao passo que os restantes foram tratados com imunoterapia convencional (formando o chamado “grupo de controlo”).
Cerca de 16,3% dos pacientes que receberam injeções de “T-VEC” apresentaram uma resposta duradoura ao tratamento ao longo de mais de seis meses (algo que se verificou em apenas 2,1% dos pacientes do outro grupo), sendo que alguns dos participantes tratados continuaram mesmo a responder bem à terapia durante um período de três anos e entraram em remissão.
Segundo a equipa, a terapia aumentou, também, em cerca de metade, o tempo médio de sobrevivência dos pacientes (de 21,5 para 41 meses) e mostrou ser especialmente eficaz em casos em que o melanoma estava menos avançado ou em que os pacientes ainda não tinham recebido quaisquer tratamentos.
Um possível tratamento de primeira linha
De acordo com os investigadores, estes resultados, publicados na revista científica Journal of Clinical Oncology, indicam que o “T-VEC” tem potencial para vir a constituir-se como um tratamento de primeira linha para o melanoma metastizado que não pode ser removido cirurgicamente.
“Há um entusiasmo crescente em relação ao uso de tratamentos virais como o 'T-VEC' porque eles são capazes de desencadear um ataque duplo aos tumores, matando as células cancerígenas ao mesmo tempo que 'recrutam' o sistema imunitário para agir contra elas”, afirma Kevin Harrington, cientista que liderou este ensaio clínico.
Harrington realça que, “por conseguir agir especificamente contra as células cancerígenas, [este tipo de terapia] tende a ter menos efeitos secundários do que a quimioterapia convencial ou outras imunoterapias que estão a ser testadas atualmente”.
“O nosso estudo prova que o 'T-VEC' tem benefícios duradouros e significativos para os pacientes com melanoma e é encorajador saber que é particularmente benéfico em casos de menor avanço”, adianta o investigador.
A equipa internacional está agora a avaliar “se esta alternativa pode vir a ser utilizada como terapia de primeira linha contra os melanomas agressivos e em estado avançado”.
Clique AQUI para aceder ao estudo (em inglês).
Notícia sugerida por Patrícia Guedes