Por PATRÍCIA MAIA
Foi à margem do Festival Internacional de BD de Beja que o Boas Notícias teve oportunidade de conhecer o trabalho de Vilas. E apesar de não andar com telemóvel, foi fácil contactá-lo: qualquer bejense sabe encontrá-lo no café que habitualmente frequenta. No próprio dia, marcámos encontro e entrevista.
Vilas nunca estudou pintura nem desenho. Deixou a escola no 8º ano e começou cedo a trabalhar como operário da construção civil. Atualmente desempregado, “faz tudo o que aparece”. Mas o desenho, esse, acompanha-o desde sempre: “É uma coisa que nasceu comigo”.
A família gostava do que fazia mas nunca levou o seu talento muito a sério. “São pessoas simples, diziam que (os desenhos) eram bonitos mas não passava disso.” Mesmo assim, Vilas nunca desistiu do impulso criativo, desenhando em qualquer pedaço de papel, guardanapos ou mesmo caixas de fósforos das quais fez uma coleção com mais de 200 pequenas obras.
O universo de Vilas, traçado pela tinta escura das esferográficas que usa, é um mundo panteista. Por ali desfilam javalis, burros, cabras, gansos e outros animais recriados por si próprio. Há também plantas. Sobretudo sobreiros, cactos, arbustos cerrados. É uma paisagem que reconhecemos: “A zona onde moro no Alentejo serve de inspiração para esta minha coleção, se vivesse em Lisboa desenhava provavelmente outros temas.”
“As canetas acompanham-me sempre”
A técnica da esferográfica descobriu-a sozinho, como aliás tudo o que aplica na sua arte. “Como não faço esboços, sinto-me mais confortável com a caneta. É mais energético. O lápis não me dá gozo”, explica. “As canetas acompanham-me sempre”, acrescenta, apontando para o bolso da camisa de onde espreitam cinco esferográficas.
Inspira-se em si próprio e no que o rodeia, garantindo que não tem referências artísticas. “Gosto de ver os trabalhos de outros artistas mas não me inspiro neles. As pessoas mais entendidas perguntam-me de onde tirei esta técnica ou aquela e eu respondo sempre que ´não tirei de lado nenhum`”, sublinha.
Dos três concurso de arte a que concorreu, venceu duas menções honrosas. Uma delas deu origem à sua primeira exposição, em 2004, no Museu Jorge Vieira. Seguiram-se mais quatro exposições. A mais recente decorreu na Casa da Cultura no passado mês de maio. Mas o seu trabalho nunca saiu de Beja. “Ainda não calhou”, confessa. Talvez um dia, o traço único da sua esferográfica saia do roteiro e alcance os olhos de outras cidades.