Há quem lhe chame "o presidente mais pobre do mundo", mas José Mujica não concorda, porque defende que pobres são os que "querem sempre mais e mais". O chefe de Estado do Uruguai doa, mensalmente, 90% do salário e vive na quinta da família.
Há quem lhe chame “o presidente mais pobre do mundo”, mas José Mujica não concorda, porque defende que pobres são os que “querem sempre mais e mais”. O chefe de Estado do Uruguai doa, mensalmente, 90% do salário que recebe para caridade e continua a viver na quinta da família onde sempre viveu, aproveitando para se dedicar ao cultivo de flores.
“Vivi assim a maior parte da minha vida. Consigo viver bem com aquilo que tenho”, confessa Mujica em entrevista à BBC. O presidente, que também abdicou da residência oficial e preferiu ficar, na companhia da mulher, nos arredores de Montevideu, oferece a esmagadora maioria do que recebe aos mais carenciados e a pequenos empresários.
Cerca de 12.000 dólares (perto de 9.300 euros) do total do ordenado que deveria auferir são, todos os meses, encaminhados para obras de caridade, o que faz com que o seu salário seja próximo da média do Uruguai: perto de 775 dólares (605 euros) mensais. Porém, Mujica garante que se trata de uma questão “de liberdade”.
“Quanto menos posses tivermos, menos necessidade temos de trabalhar como escravos a vida inteira para as sustentar. Consequentemente, temos mais tempo para nós próprios”, afirma o presidente. “Posso parecer um velho excêntrico, mas esta é uma escolha livre”, acrescenta ainda.
“Não me sinto pobre”, afirma Mujica
Depois de ter estado preso durante 14 anos, o presidente uruguaio confessa que a sua perspetiva da vida mudou e que, quando foi libertado, se tornou um homem diferente. “Chamam-me o 'presidente pobre', mas não me sinto pobre. Pobres são os que apenas trabalham para manter um estilo de vida acima da média e querem sempre mais”, aponta.
Apesar de, como é natural, o seu governo não contar com um apoio consensual por parte de toda a população uruguaia, Mujica é admirado pela forma como vive. O líder, que segue ainda uma alimentação vegetariana, acusa os principais chefes de Estado mundiais de sofrerem com uma “obsessão cega pelo desejo de aumentar o crescimento através do consumo exacerbado, como se a diminuição do crescimento fosse o fim do mundo”.
Atualmente com 77 anos, José Mujica não deverá, no entanto, manter-se na política durante muito mais tempo. Quando se reformar terá direito a uma pensão igual à de todos os seus concidadãos e, escreve a BBC, o estilo de vida que adotou até aqui poderá ser uma vantagem, já que pouco o fará notar a quebra de rendimento que essa fase vai trazer.