Inovação e Tecnologia

Terapia inovadora recupera mobilidade de paraplégicos

Nem os próprios investigadores previam uma descoberta desta magnitude: oito pessoas totalmente paralisados por lesões medulares graves recuperaram a sua capacidade de mover as pernas. Um dos pacientes conseguiu andar só com muletas.
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Nem os próprios investigadores previam um resultado desta dimensão: oito pessoas totalmente paralisadas por lesões medulares graves recuperaram a sensibilidade das pernas e capacidade parcial de movimento. Um dos pacientes conseguiu mesmo andar apoiado apenas em duas muletas.
 
A revelação foi publicada esta semana no jornal Scientific Reports por um grupo de investigadores que trabalham no The Walk Again Project, liderado pelo famoso neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, que é investigador do Centro Médico da Duke University (EUA).

Leia também: Paraplégico pode dar pontapé de saída do Mundial

O projeto inicial deste tratamento clínico consistia em usar um exoesqueleto mecânico e exercícios com recurso a realidade virtual para ajudar pacientes paraplégicos a recuperarem alguma mobilidade.
 

Exemplo de um exo-esqueleto da Ekso Bionics, uma das fabricantes deste tipo de aparelhos: os exoesqueletos ligam-se diretamente ao cérebro através de minúsculos sensores e permitem que o paciente paraplégico recupere uma mobilidade parcial

Para a surpresa da equipa de investigação, ao fim de um ano de tratamento, todos os oito pacientes apresentaram uma melhoria substancial das suas capacidades motoras e sensitivas, um resultado nunca visto antes em pacientes paraplégicos com lesões totais.
 
Os investigadores acreditam que a explicação reside nos nervos da medula espinhal. Antes, pensava-se que os nervos destes pacientes estariam permanentemente danificados, sendo a recuperação impossível.

Agora, os investigadores acreditam que alguns dos nervos destes pacientes continuam operacionais e que apenas ficam “adormecidos” quando há uma lesão, tendo sido acordados pelo uso do exoesqueleto e por outros exercícios com recurso a realidade virtual.

Infografia do tratamento realizado ao longo de um ano (imagem em grande formato aqui). No total, os oito pacientes passaram por mais de 1.900 horas de terapia divididas por 2.052 sessões. O tratamento incluiu sessões de fisioterapia, reabilitação neurológica, psicologia, pesquisa e monitorização médica.

“O paciente número 1 inicialmente nem conseguia ficar de pé usando muletas. Depois de dez meses de treino, o mesmo paciente consegue andar usando muletas e acompanhado por um terapeuta”, relatam os investigadores.
 
"Noutro caso, o paciente 7 conseguiu andar só com duas muletas e próteses nos membros inferiores, não necessitando da assistência do terapeuta."

Controlo parcial da bexiga e intestino
 
Os pacientes também recuperaram o controlo parcial da sua bexiga e do intestino e viram melhoras na sua função cardiovascular, o que, no caso de um paciente, resultou numa redução da hipertensão.
 
Sendo uma descoberta inédita, ainda se desconhecem os limites da recuperação, mas os investigadores acreditam que os pacientes ainda podem vir a evoluir mais ao longo do tempo. Os resultados, por agora, já são mais que impressionantes. 
 
Miguel Nicolelis, líder do projeto, comenta, num vídeo publicado pelo Walk Again Project, que "atualmente, quando as pessoas com lesões na medula espinhal recebem o diagnóstico de paralisia completa, a reabilitação consiste em adaptá-las a uma cadeira de rodas”. Situação que o projeto quer reverter.
 
"Nós acreditamos que o nosso tratamento, a longo prazo, para além de ser fundamental em si mesmo no desencadeamento de uma recuperação verdadeira, também pode servir como um factor de motivação importante para os pacientes com lesões da medula espinhal em todo o mundo”.
 

Notícia sugerida por António Resende

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