Uma equipa internacional de astrónomos liderada pelo português Jorge Martins detetou, pela primeira vez na história da astronomia, de forma direta, o espectro visível de um exoplaneta. A nova técnica de observação promete revolucionar o estudo dos planetas que habitam fora da nossa galáxia.
Atualmente, o método mais utilizado para estudar a atmosfera de um exoplaneta consiste em observar o espectro da estrela hospedeira quando este é filtrado pela atmosfera do planeta durante um trânsito – uma técnica chamada espectroscopia de transmissão.
A nova técnica desenvolvida pela equipa de Jorge Martins não depende de um trânsito planetário, pelo que vai permitir estudar mais exoplanetas de forma mais rápida. Por outro lado, permite que o espectro planetário seja observado diretamente o que significa que características diferentes do planeta, que não são acessíveis através de outras técnicas, possam ser analisadas.
O sucesso da técnica utilizada depois de ter sido aplicada aos dados do HARPS relativos ao 51 Pegasi b, valida o conceito de forma muito valiosa.
Jorge Martins explica, em comunicado do Observatório Europeu do Sul, que “este tipo de técnica de deteção tem uma grande importância científica, já que nos permite medir a massa real do planeta e a sua inclinação orbital, o que é essencial para compreendermos completamente o sistema. Permite-nos também estimar a refletividade do planeta, ou albedo, o que pode ser depois usado para inferir a composição tanto da superfície do planeta como da sua atmosfera”.
Técnica vai ser usada noutros equipamentos mais potentes
Descobriu-se que o 51 Pegasi b tem cerca de metade da massa de Júpiter e uma órbita com uma inclinação de cerca de nove graus na direção da Terra. O planeta parece também ser maior que Júpiter em termos de diâmetro e extremamente refletivo. Estas são propriedades típicas de um planeta do tipo Júpiter quente, que se encontra muito próximo da sua estrela progenitora e por isso exposto a intensa radiação estelar.
O HARPS foi essencial para o trabalho efetuado pela equipa, mas o facto do resultado ter sido obtido com o telescópio de 3,6 metros do ESO, que tem um limite de aplicação da técnica, constitui uma boa notícia para os astrónomos.
O equipamento que existe atualmente será ultrapassado por instrumentos muito mais avançados instalados em telescópios maiores, tais como o Very Large Telescope (VTL) do ESO e o futuro European Extremely Large Telescope.
“Esperamos com impaciência a primeira luz do espectrógrafo que será montado no VLT, com o qual faremos estudos mais detalhados sobre este e outros sistemas planetários,” conclui Nuno Santos, do IA e Universidade do Porto, co-autor do novo artigo científico que descreve estes resultados.
Notícia sugerida por Patrícia Gonçalves