A equipa de Micobacteriologia Molecular liderada por Nuno Empadinhas, no Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC), foi uma das 16 selecionadas para a atribuição de uma bolsa de 2,2 milhões de ienes (cerca de 20 mil euros), com a duração de um ano.
Um dos objetivos é estudar as enzimas que fabricam um tipo raro de polissacáridos (açúcares complexos), envolvidos na génese de micobactérias como as que causam tuberculose (Mycobacterium tuberculosis), que as protege, por exemplo, da ação de muitos antibióticos comuns.
Trata-se de “uma investigação complexa”, explica em comunicado Nuno Empadinhas, porque “um grande obstáculo é descodificar a função dos genes (que dão origem às enzimas) destas bactérias. Vale a pena referir que o genoma de M. tuberculosis foi sequenciado há 14 anos mas estão ainda por descobrir as funções da mais de metade dos seus 4.000 genes”.
Os investigadores pretendem identificar todos os genes envolvidos na formação destes polissacáridos. “É como construir um puzzle em que cada peça tem de estar no sítio certo”, refere a equipa num artigo recente publicado na revista Natural Product Reports.
Se tudo correr bem “fica aberto o caminho a áreas como a biologia estrutural, engenharia química e farmacêutica em direção ao desenvolvimento de fármacos (antibióticos) que bloqueiem a função dos polissacáridos e a formação da parede, com consequências letais para as micobactérias”.
A tuberculose “voltou a receber atenção desde que ressurgiu no panorama mundial com o alastramento do HIV/SIDA, e em especial desde a deteção em 2006 de estirpes extensivamente resistentes aos principais antibióticos utilizados há décadas contra esta doença”.
Investigação pode combater centenas de patologias
“Esta investigação poderá também ter impacto em patologias causadas por outras micobactérias dispersas no ambiente, as não tuberculosas (há mais de 150 espécies descritas). A crescente preocupação com estas micobactérias resulta do aumento no número de infeções em ambiente hospitalar, em pacientes imunodeprimidos, ou com fatores de risco como fibrose quística, diabetes, idade avançada, entre outros”, prossegue o investigador da UC.
“Este apoio do outro lado do mundo constitui um importante complemento ao financiamento nacional e confirma que a ciência não tem fronteiras”, diz ainda Nuno Empadinhas.
A equipa de investigação, que conta com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), inclui Susana Alarico, Vítor Mendes, Ana Maranha e Andreia Lamaroso, e tem a colaboração de investigadores do Instituto de Biologia Celular e Molecular (Porto), do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (Oeiras) e da Universidade de Guelph, no Canadá.