Constança tem 28 anos, interessa-se por “comida honesta e por interiores que refletem quem lá vive”. Primeiro trocou o curso de direito pela sua verdadeira paixão: a costura. Conforme contou ao Boas Notícias, estava no 3º ano quando percebeu “que o diploma iria diretamente para a gaveta”.
Terminado o curso, decidiu inscrever-se num mestrado em História mas, também não foi aí que encontrou aquilo de que realmente gostava. A tese, recorda, “ficou a meio”, e durante o mestrado descobriu o mundo da costura e dos blogues, a que resolveu dedicar-se inteiramente.
No “Saídos da Concha”, o blogue bilingue (português e inglês) que mantém desde 2006, começou por mostrar e vender os seus trabalhos. Da Concha saem babetes, clutch’s, écharpes, malas e sacos, mas também receitas de compotas, arranjos de flores silvestres, fotografias de cantos da sua casa ou verdadeiros achados que vai recolhendo em lojas de 2ª mão. Tanto utiliza tecidos novos como antigos e reutilizados. Cose e descose saias escocesas e casacos de pura lã, tem uma paixão por “quilts” e pelo vintage.
Concha diz que gosta de usar as “mãos e ideias de uma forma criativa e produtiva”, sem estar dependente do que há nas lojas, produzindo as coisas de que precisa. Uma tendência que, aliás, acredita que se tem generalizado.
“Penso que as pessoas estão fartas da massificação e da falta de qualidade em geral. Isto não é nada de novo, simplesmente esteve adormecido durante 30 ou 40 anos. A diferença é que hoje em dia fazer coisas à mão não é uma necessidade, mas sim uma escolha”, defende Constança.
A inspiração, diz, vem de “livros e revistas de decoração, livros antigos de costura, filmes de época, feiras de antiguidades e, claro, de muitos blogues”.
“Vida preenchida e feliz, sem consumir excessivamente”
Em janeiro de 2010, Constança trocou a cidade de Lisboa por uma casa nos campos ingleses. Apesar das saudades do clima da capital e da vida social que aqui mantinha, acredita que esta mudança de estilo de vida foi “fundamental” na relação que criou com a natureza.
“Vivia num pequeno apartamento no centro de Lisboa, passei a viver numa casa isolada no meio do campo. Ganhei uma empatia enorme com as estações do ano e uma grande comunhão com a natureza”, confessa.
A jovem “crafter” acredita “que é possível ter uma vida rica, preenchida e feliz, sem consumir excessivamente” e que se devem “cultivar prazeres simples e domésticos”. O seu blogue, explica Constança, é “um apanhado do melhor” dos dias de “uma vida feita à mão”.
Concha vende os seus produtos na loja online e as suas clientes vêm de pontos do globo tão variados como Malásia, Canadá, ou Austrália, mas a maioria vem mesmo de Portugal.
O desafio de cultivar paixões
Contudo, Constança diz que “fazer peças à mão é ingrato”. Os materiais caros e o tempo dispendido em cada peça fazem com que o produto final tenha preços que nem sempre agradam aos clientes.
Apesar dos riscos que correu com a mudança de vida não se arrepende de nada, diz-se uma mulher feliz, com um marido e uma família que a apoiam nas suas escolhas e desafios. No futuro espera colaborar com revistas e sites, estabelecer uma marca forte e também escrever um livro.
A criatividade de Concha já lhe valeu, para além das muitas seguidoras, entrevistas e artigos em revistas e sites de diferentes países, o que prova que o seu trabalho é reconhecido e apreciado.
Constança defende que “as pessoas devem cultivar os seus gostos e inclinações”. “Só vivemos uma vez e há que explorar ao máximo aquilo que nos dá prazer. Se uma pessoa gosta de cozinhar, porque não interessar-se a sério por isso e tentar dar o seu melhor todos os dias? Quem diz cozinhar diz jardinar, cantar, correr, tricotar e por aí fora”, exemplifica.
Visite AQUI o blogue “Saídos da Concha”.
Mafalda Almeida