A associação ambiental portuguesa Quercus conseguiu criar, no último ano, mais de 100.000 espécies e mexilhões na única estação aquícola do país onde se reproduzem espécies ameaçadas.
A associação ambiental portuguesa Quercus conseguiu criar, no último ano, mais de 100.000 espécies e mexilhões na única estação aquícola do país onde se reproduzem espécies ameaçadas. Mais de quatro anos após o início do projeto, os responsáveis da organização dizem que se trata de uma obra singular, mas que ainda há muito a fazer.
Em declarações à Lusa, Paulo Lucas, um dos dirigentes da Quercus, revela que o mais recente projeto da instituição, na quase desertificada aldeia de Campelo, em Figueiró dos Vinhos, permitiu a reprodução de 85.248 mexilhões-de-rio-do-norte, que possuem um papel essencial na regeneração das águas dos rios.
Para além de peixes como o ruivaco-do-Oeste, a boga-portuguesa, o sudoeste e os escalos do Arade e do Mira identificados como “criticamente em perigo” – que, a partir de Março, passaram a habitar nos rios e ribeiras nacionais que constituem o seu habitat natural – a aposta mais recente da estação aquícola passa pela reprodução em cativeiro de duas espécies de mexilhões.
À semelhança do que aconteceu com os peixes “semeados” nos rios Sizandro e Alcabrichel, Mira e Arade, respetivamente nos distritos de Lisboa, Beja e Faros, a Quercus espera agora conseguir repetir a “migração” dos mexilhões.
A próxima morada da espécie “Margaritifera margaritifera” será o rio Paiva, em Castro d'Aire, no qual está identificada uma população envelhecida de mexilhões e que vai permitir comparar as taxas de crescimento que ocorrem no meio natural com as obtidas em cativeiro, aferindo, desta forma, o método que possibilita melhores resultados.
De acordo com a Quercus, estes bivalves estão ameaçados de extinção sobretudo por culpa do “desaparecimento das populações de peixes hospedeiros como o salmão e a truta-de-rio”, da “existência de poluição orgânica das águas”, da “modificação dos cursos de água com deposição de detritos no leite” e da “construção de barragens e açudes.
Proteção das espécies continua a ser um problema
Apesar dos resultados muito positivos que têm sido obtidos no “berçário” de água doce da Quercus, Paulo Lucas alerta que a proteção das espécies continua a ser um problema, tanto “pela poluição como pela proliferação de peixes exóticos e lagostins” em Portugal.
“Há muito trabalho para fazer e não se pode dizer que estas espécies de água doce tenham ficado menos ameaçadas. Antes pelo contrário”, realça o responsável, salientando que “o grau de ameaça mantêm-se” nos rios devido à intervenção humana.
“Temos, neste momento, problemas de poluição que continuam a existir, temos introdução de espécies exóticas” e persiste “a destruição da vegetação ribeirinha porque não há cuidado com a agricultura”, conclui.
Até 2016, o projeto da Quercus prevê a reabilitação dos bosques de amieiros no rio Paiva e na ribeira do Torgal, em Odemira, bem como a reprodução na estação de Campelo, local onde já nasceram 25.658, de outro mexilhão-de-rio, o Unio tumidiformis.
Esta é a primeira vez que é feita a reprodução deste bivalve de água doce em Portugal, um sucesso alcançado no âmbito do projeto Life+ Ecótono, dinamizado pela Quercus com o cofinanciamento do programa Life da União Europeia, da Agência Portuguesa do Ambiente e do Município de Castro Daire, com a colaboração também do município de Figueiró dos Vinhos.