Um investigador português quer aproveitar os resíduos resultantes da poda das videiras após as vindimas para a produção de um "combustível sólido inteligente", que queime à medida das necessidades e que poderá ser usado em assadores ou lareiras.
Após as vindimas na Região Demarcada do Douro as videiras têm de ser limpas através da poda e os resíduos que sobram – as chamadas vides – são, normalmente, triturados ou queimados. Porém, um investigador português quer agora aproveitá-los para a produção de um “combustível sólido inteligente”, que queime à medida das necessidades e que poderá ser usado em assadores ou lareiras.
Deste “desperdício” de recursos nasceu o projeto Da_Vide, da autoria de Pedro Teixeira, de 40 anos. Inicialmente, o português dedicou-se à conceção de artesanato com o aproveitamento das vides, mas, após os estudos que efeutou acerca destes resíduos, o seu novo objetivo é a produção de um combustível sólido.
Em declarações à Lusa, Pedro Teixeira explica que as vides são um exemplo de biomassa com uma grande capacidade energética, constituída por componentes diferentes, com também diferentes características em termos de combustão, que a fazem “extraordinária”.
Segundo o investigador, estas características tornam possível “desenhar um combustível à medida, em função da utilização que se pretenda”. Isto é, pode fazer-se um combustível com uma ignição rápida e que faça mais brasa para um assado, ou mais chama para alimentar uma lareira.
A ideia base é a de criar placas recorrendo à compactação das vides, juntando várias camadas de diferentes espessuras. A constituição interna variará consoante a utilidade que se pretende dar ao combustível e, por meio deste processo, será possível controlar o tempo e a potência com que vai ser queimado.
Aplicações das vides vão da engenharia até à moda
De acordo com Pedro Teixeira, a tecnologia aplicada para a criação deste combustível sólido é muito simples, passando pela seleção dos componentes da vide, depois pelo processo de secagem e, finalmente, pelo índice de compactação, uma das variáveis que influencia na combustão. Além disso, sublinha o investigador, as vides também dão sabor, por exemplo, aos assados: não só cozinham, como também temperam.
Atualmente, a quantidade de lenha de poda que resulta, por ano, de uma videira com vigor médio é de cerca de 800 gramas, o que significa que são muitas as toneladas de vide que, neste momento, estão a ser “completamente desperdiçadas”.
Para apresentar este projeto, está a ser preparado um magusto em que as pessoas vão ser convidadas a levar o seu próprio combustível, quer seja lenha ou carvão, para fazer uma espécie de competição. “Nós vamos tentar fazer melhor do que todos os outros”, frisa.
“O próximo passo é pegar em toda a ciência desenvolvida em torno dos vinhos e que tem a ver com o paladar e tentar transferir parte desse conhecimento para a tecnologia das vinhas”, adianta o investigador. Mas as aplicações para as vides não ficam por aqui: Pedro Teixeira está ainda a desenvolver estudos em outras áreas como a indústria de componentes e acessórios, engenharia e tecnologia e também design, decoração e moda.
[Notícia sugerida por Victor Pereira e Patrícia Guedes]