O estudo baseou-se nas informações recolhidas através de entrevistas a mais de 60 aceleradoras mundiais, das quais se incluem a 500 Startups, a Tech Stars, realizadas durante a European Accelerator Summit (2015), que teve lugar em Lisboa.
O documento foi elaborado tendo em vista a definição de uma abordagem conjunta sobre o setor da aceleração, procurando definir estratégias, tendências e recomendações para ativar e fazer crescer o ecossistema de start-ups na Europa.
Edite Cruz, coordenadora do projeto na Beta-i, afirmou que a “indústria de aceleração é essencial a qualquer economia que queira alavancar o empreendedorismo de base tecnológica. A aceleração é uma indústria em rápido crescimento, de grande impacto, e de cariz global, mas é relativamente nova, e desconhecida para a maioria”.
No entanto, o relatório reflete que, embora o número de aceleradoras no mundo tenha aumentado entre 2012 e 2015, de 194 para 793, o número de start-ups graduadas não acompanhou tal subida. O valor mais elevado – registado em 2012 – mais de 1400 – diminui para pouco mais de 600 em 2014.
Acerca do panorama atual de aceleração, o estudo aponta que há diferentes tipos de programas globalmente, porém há um conjunto de fatores comuns a todos eles. A tutoria e mentoria intensiva, com empresários, investidores e especialistas, durante cerca de três a quatro meses. As empresas que se podem candidatar a um período de aceleração devem ser escaláveis e com uma equipa de dois a três fundadores. Simultaneamente, o funcionamento de uma aceleradora baseia-se na organização de vários ciclos por ano durante os quais, cinco a dez equipas treinam e aprendam a ideologia do design thinking, o design centrado no utilizador e a rapidez inerente ao negócio, sendo que tal período termina num “demo day” com vários pitches de start-ups.
Perante estas características, o Relatório Europeu sobre Aceleração distingue firmemente uma aceleradora de uma incubadora. As diferenças existentes no que respeita à duração, grupo, modelo de negócio, frequência, tipo e fase de investimento, educação oferecida, localização do investimento e orientação, resumem-se no facto de as aceleradoras se focarem nos fundadores, enquanto as incubadoras se centram na tecnologia e no negócio em si mesmo.
Também são expostas situações em que os programas de aceleração são estipulados consoante o ciclo de vida de uma start-up ou de acordo com indústrias e tecnologias específicas. Como exemplos nacionais, o Beta-Start ou o Startup Pirates surgem na fase de ideação, ou seja, pré-aceleradoras que focadas o momento pré-semente (pre-seed), altura em que os empreendedores passam de “não ter uma ideia de negócio” até à validação do mercado. Estes programas duram até oito semanas e os mentores ajudam os participantes a desenvolverem as suas ideias. Para a fase inicial – aquela em que uma empresa já foi lançada e está à procura de clientes, numa tentativa para alcançar o equilíbrio financeiro com um fluxo contínuo de capital adicional proveniente de investidores institucionais. Este tipo de aceleração tem a duração de cerca de três meses. O programa da Beta-i, Lisbon Challenge é um destes casos, a par com o Techstars ou o Y Combinator.
A fase posterior está direcionada para start-ups com produtos já conhecidos e bem estabelecidos no mercado. Nesta etapa, o fluxo de caixa é positivo e os investidores procuram liquidez à medida que a empresa para ser adquirida. Exemplos como a Microsoft Ventures ou The Bridge by Coca-Cola procuram ajudar a formar parcerias estratégicas entre start-ups e grandes empresas, beneficiando da sua vasta experiência.
Independentemente da fase a que se dedicam, as aceleradoras podem ainda diferenciar-se de acordo com o tipo de recursos que disponibilizam, com os seus objetivos estratégicos, com os vários tipos de programas de aceleração que oferecem e com as fontes de financiamento.
Tendo em conta estes fatores, há aceleradoras baseadas em fundos de investimento privado (como o Y Combinator), numa lógica de criação de comunidade empreendedora (como a Beta-i), numa empresa (como a Wayra ou a Deloitte Digital), no governo (como a Startup Chile ou a Startup Portugal) e também em universidades (como a StartX ou a TecBIS do Instituto Pedro Nunes – ligada à Universidade de Coimbra).
Entre as informações recolhidas junto de aceleradoras, salienta-se ainda que a aceleração genérica é a mais praticada (62%), seguindo-se a aceleração vertical (29%), ou seja, um tipo de aceleração que atrai start-ups direcionadas a uma indústria específica, comércio ou tipo de cliente. A pré-aceleração é a menos praticada (9%). Além disso, existem diferentes motivos que estão na origem dos vários tipos de programas de aceleração, assim como os valores atribuídos por cada um deles às start-ups e as formas de financiamento disponibilizadas se distinguem.
Uma vez que cada vez mais as start-ups são pensadas para serem globais, também os próprios programas de aceleração começam a ser internacionais. 46% destes programas envolvem menos de metade de start-ups estrangeiras, 36% possuem entre 50 a 80% de start-ups internacionais e apenas 18% só possuem start-ups do país de origem. Em contrapartida, são poucas as aceleradoras que organizam programas de aceleração em mais do que um país (apenas 22%).
Entre as principais indústrias aceleradas, o relatório aponta que a aceleração vertical se centra mais no entretenimento e lazer, nas finanças (banca e fintech), na saúde, negócios e produtividade e imobiliário, enquanto a aceleração genérica está mais voltada para as indústrias criativas, a educação financeira, o marketing e publicidade e também para os negócios e produtividade.
A participação é um aspeto interessante do modelo de negócios de aceleração. Segundo os dados recolhidos em 2015, quase metade das aceleradoras (44%) tomam participação nas start-ups e a mesma varia entre 6% -10%. O estudo aponta ainda que durante o ano de 2016 a tendência se manteve.
Exposta a forma como as aceleradoras operam no mercado, o Relatório Europeu sobre Aceleração definiu algumas tendências que irão marcar este setor nos próximos anos. De acordo com o mesmo, é provável que as organizações trabalhem cada vez mais de forma direta com clientes corporativos no sentido de ajudar a sua relação com as start-ups (open innovation), mas também nos processos internos, formando intrapreneurs. Também se espera que as aceleradoras se tornem, progressivamente, em investidoras nas start-ups que ajudam a acelerar, facto coincidente com a maior tendência para a internacionalização. Em paralelo, prevê-se que as universidades estejam mais atentas à necessidade de educar os jovens para as dinâmicas do empreendedorismo, esperando-se que aumente o número de estabelecimentos de ensino a promover pré-aceleradoras.
“Apesar do facto de sermos todos representantes de organizações diferentes, concorrentes até, temos uma responsabilidade para com o ecossistema como um todo. Assim, é benéfico que todos sejam capazes de desenvolver os melhores aceleradores possíveis, melhorando os nossos programas e dando apoio da mais alta qualidade às nossas start-ups”, refere Ricardo Marvão, Cofundador & Head of Global Resources da Beta-i. Nesta lógica, e assumindo que há determinados desafios a serem ultrapassados, tais como atrair start-ups, mentores de qualidade e financiamento para as empresas aceleradas, bem como construir uma rede credível e manter a sustentabilidade do negócio, as aceleradoras têm ainda potencial para fazer crescer (ainda mais) o ecossistema das start-ups.
A colaboração transnacional entre aceleradoras, empresas e start-ups é uma excelente recomendação para alavancar a competitividade da economia europeia. Em paralelo, a necessidade de definir políticas públicas promotoras do empreendedorismo (tal como a já apresentada estratégia governamental Startup Portugal) e a educação para formar quadros empreendedores são igualmente fundamentais para promover na Europa um ecossistema de start-ups mais robusto e poderoso.
// www.europeanacceleratorsummit.com
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