Tecnologias, na forma de aplicações, plataformas e redes sociais que nos põem em contacto com tudo e com todos? Sim, é verdade, mas a conexão permanente e a facilidade de acesso a outros não terá suscitado um maior desprendimento com o próximo?
Vejamos o primeiro lado da questão – a tecnologia ajuda, sem sombra de dúvidas, a aproximar as pessoas, em especial os casais que estão num relacionamento à distância.
Em novembro de 2013, Emma Dargie, uma das autoras do estudo “Go Long! Predictors of Positive Relationship Outcomes in Long-Distance Dating Relationships” (“Vá para longe! Preditores de resultados positivos em relacionamentos de longa distância”) referiu que “os media retratam os relacionamentos de longa distância como destinados ao fracasso e que as vidas dos casais seriam horríveis. Mas com base na pesquisa, este não foi o caso”.
Dargie, em parceria com outros investigadores da Universidade de Queens (Canadá), avaliou 717 indivíduos na casa dos 20 anos que estavam atualmente em relações de longa distância e 425 que estavam em relações geograficamente próximas. A qualidade do relacionamento foi definida com base em avaliações de intimidade, compromisso, comunicação, satisfação de relacionamento, satisfação sexual e comunicação sexual e concluíram que mais de 14 milhões de casais em todo o mundo estão numa relação de longa distância.
Os resultados indicaram que os indivíduos em namoros de longa distância não estão em desvantagem e que a relação e as características individuais predizem a qualidade da relação, motivo pelo qual, quanto maior a distância entre o casal, maior o nível de satisfação, intimidade e comunicação.
Ana Casaca experienciou isso mesmo quando o marido esteve num projeto que o obrigou a estar, recorrentemente, fora do país durante um ano. Para minimizar a distância entre ambos, viu na tecnologia um aliado que manteve a “sensação de proximidade e de acompanhamento da família”.
No conjunto das várias ferramentas tecnológicas disponíveis, a Head of Innovation do Grupo José de Mello, destaca o Facetime, do Skype e do Whatsapp “pela simplicidade de acesso, via iPhone, e facilidade de utilização”. Pela sua experiência, Ana Casaca defende que, tanto a internet, como todas as tecnologias associadas, ajudam (mais) a manter uma relação (à distância) porque permitem “um contacto visual imediato (por exemplo, as refeições em família continuavam a ser com a presença do pai e marido, mesmo estando noutro continente)”.
Manter uma relação à distância é, certamente, difícil, mas os novos meios tecnológicos vieram aproximar as pessoas, mantendo o amor e a conectividade, qualquer que seja a distância que as separa.
No entanto, a tecnologia pode criar um ambiente mais “negro” entre os casais. De acordo com o escritório de advocacia familiar norte-americano, McKinley Irvin, um em cada três casamentos falha devido a casos online.
As redes sociais trouxerem novas expressões de comportamentos e relacionamento social, alterando o modo como nos conhecemos, apaixonamos e, também, como nos separamos.
Ana Casaca acredita que as pessoas que recorrem a sites e aplicações de encontros online tanto podem procurar uma relação séria e duradoura, como algo mais frívolo e passageiro.
Os advogados alertam que tudo aquilo que é distribuído online também pode ser usado contra si na sala do tribunal numa situação de divórcio. Mensagens em chats, fotografias e emails partilhados digitalmente podem servir como prova.
No estudo da McKinley Irvin, o Facebook é um dos motivos mais usados em discussões sobre redes sociais. 15% dos casais considera estas redes como perigosas para o seu casamento, de tal forma que 16% ligam o tempo passado no Facebook ao ciúme.
Oito por cento dos adultos que estão numa relação admite ter contas secretas nas redes sociais, daí que um em cada três mantenha as suas passwords escondidas do seu parceiro, assim como um em cada dez adultos admite esconder mensagens e publicações dos seus parceiros.
As suspeições podem ser, por vezes, significativas – 14% afirmam procurar nos perfis sociais dos seus parceiros evidências de infidelidade. A desconfiança leva ao confronto, pelo que uma em cada sete pessoas casadas tem contemplado o divórcio por causa da atividade do seu parceiro nas redes sociais. E a traição realizada através de aplicações como Tinder, Twitter, Instagram, e outras, é tão reveladora que 81% dos advogados da Academia Americana Matrimonial já fez uso ou encontrou provas claras para os seus processos.
Seja com uma feição mais ou menos positiva e facilitadora das relações amorosas, a tecnologia existe e está disponível para todos, qualquer que seja a sua idade. Contudo, é importante referir que a geração que nasceu em plena era digital, os millennials, talvez ainda não saiba como “encontrar o amor” através da tecnologia. Isto porque, segundo a sétima pesquisa anual do site Match (atual Meetic), 57% dos millennials estão sozinhos e 22% sentem que a tecnologia tornou mais difícil encontrar um parceiro. Ainda assim, não desistem e 125% dos 5500 jovens solteiros dos Estados Unidos inquiridos para este estudo, intitulado “Singles in America”, admite estar viciado em fazer conexões amorosas, ao contrário de outras gerações.
Independentemente das facilidades de comunicação e ligação potenciadas pela internet e pelas tecnologias de hoje em dia, os jovens millennials (177%) deparam-se com a mesma pressão social que, certamente, os seus pais (e os pais dos seus pais) também sentiram: uma vez encontrado o parceiro dos “nossos sonhos”, todos temos que nos encaminhar para o matrimónio (sinal máximo de união e amor). Assim, digital ou não, todos tendemos a acreditar que no final o amor (deve) vence(r) sempre, quer esteja separado por um metro ou milhões de quilómetros.
// www.singlesinamerica.com/2017
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