Investigadores portugueses anunciaram, esta quarta-feira, ter conseguido "avanços significativos" na compreensão da doença de Alzheimer, identificando "novos mecanismos bioquímicos no cérebro" que ocorrem "antes do declínio cognitivo".
Investigadores portugueses anunciaram, esta quarta-feira, ter conseguido “avanços significativos” na compreensão da doença de Alzheimer, identificando “novos mecanismos bioquímicos no cérebro” que ocorrem “antes do declínio cognitivo e antes das tradicionais marcas patológicas associadas à doença”.
Em comunicado enviado ao Boas Notícias, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), que liderou a investigação, explica que os estudos no âmbito dos quais foram feitos estes avanços, que já foram premiados pela Fundação Calouste Gulbenkian e que começam agora a ser publicados em revistas internacionais da especialidade, foram desenvolvidos ao longo dos últimos três anos.
De acordo com Romeu Videira, coordenador da investigação e cientista da universidade transmontana, a equipa conseguiu identificar um “conjunto de alterações bioquímicas que ocorrem no tecido muscular esquelético e que se correlacionam com a progressão das alterações patológicas no cérebro, possibilitando o diagnóstico das diferentes fases da doença através de biópsias” a este tecido.
Os cientistas, financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), utilizaram ratinhos geneticamente modificados “em idades pré-sintomáticas e caraterísticas de duas etapas da doença”, que desenvolveram a patologia de forma progressiva, tal como os pacientes humanos.
“A investigação desenvolvida mostrou que, muito antes de surgirem os primeiros sinais e sintomas da doença, ocorre uma deficiência nos processos de geração de energia ao nível das mitocôndrias, localizadas nos terminais dos neurónios, e estritamente associada a uma desregulação no metabolismo dos lípidos”, explica Romeu Videira.
Segundo o coordenador do estudo, “este défice energético começa por comprometer a comunicação entre os neurónios nas regiões afetadas e, com o avanço da idade, expande-se, promovendo o processo neurodegenerativo caraterístico da doença”.
Além disso, os investigadores conseguiram, também, provar que a doença de Alzheimer não é específica do cérebro, dado que “alterações metabólicas são também detetadas em tecido muscular esquelético”. A equipa propõe, portanto, que a doença de Alzheimer passe a ser considerada uma “doença metabólica sistémica”, isto é, que afeta todo o corpo.
No entender de Romeu Videira, esta visão da doença traz consigo a “vantagem de permitir compreender a perda progressiva de massa corporal exibida por muitos dos pacientes”, abrindo a possibilidade de se “conseguir um diagnóstico efetivo das diferentes etapas da doença”.
Atualmente, a doença de Alzheimer é confirmada, apenas, através de uma análise pós-morte ao cérebro, que permite observar “a presença de placas senis e tranças neurofibrilares”.
Os novos estudos permitem, porém, não apenas apresentar “novas estratégias de diagnóstico”, como “novas formas terapêuticas, entre as quais as que recorrem aos nanomateriais”, congratula-se o investigador.
Investigação foi premiada pela Fundação Gulbenkian
O projeto “Targeting brain mitochondria by carbon dots” surge, portanto, com o objetivo de validar uma “proposta terapêutica inovadora”, esclarece a UTAD, acrescentando que o que se pretende é evitar a progressão da doença de Alzheimer com recurso a “formulações de lipossomas com nanopartículas de carbono multifuncionais para restaurar a funcionalidade da mitocôndria”.
Este projeto foi apresentado por Andreia Veloso, aluna de mestrado em bioquímica da UTAD, que integra a equipa que estuda a doença na nesta universidade, e foi já premiado no concurso “Estimulo à Investigação 2014”, que distingue anualmente propostas de investigação de elevado potencial criativo.
Promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, este prémio, em duas componentes, visa, simultaneamente, premiar o investigador e financiar a continuidade do trabalho de investigação que será conduzido nos grupos de materiais e de química alimentar e bioquímica do Centro de Química de Vila Real (CQ/VR) da UTAD.
A investigação contou com a colaboração de investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular de Coimbra e da Universidade de Aveiro.
Notícia sugerida por Maria da Luz