Um cientista português coordenou um estudo internacional que acaba de revelar ao mundo a melhor imagem de sempre de uma colisão de duas galáxias quando o Universo tinha quase metade da sua idade, captada com a ajuda do telescópio ALMA.
Um cientista português coordenou um estudo internacional que acaba de revelar ao mundo a melhor imagem de sempre de uma colisão de duas galáxias quando o Universo tinha quase metade da sua idade, captada com a ajuda do telescópio ALMA e de uma “lupa natural do tamanho de uma galáxia”.
“Embora os astrónomos se encontrem limitados pelo poder dos seus telescópios, em alguns casos, a nossa capacidade de observar detalhes é aumentada por lentes naturais”, explica, em comunicado, Hugo Messias, do Centro de Astronomia e Astrofísica da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CAAUL), autor principal da investigação.
Segundo o português, “Einstein previu na sua teoria da relatividade geral que, dada bastante massa, a luz não viaja em linha reta mas curvará, da mesma forma que é refratada por uma lente normal”, efeito produzido por estruturas massivas como galáxias ou enxames de galáxias em frente de galáxias mais distantes e ao qual se dá o nome de “lente gravitacional”.
Hugo Messias destaca que “estes alinhamentos ocasionais são bastante raros e tendem a ser difíceis de identificar”, mas que “estudos recentes mostraram que observando nos comprimentos de onda do infravermelho longínquo e do milímetro” é possível “encontrar estes casos de forma mais eficaz”.
Os cientistas obtiveram, agora, as informações mais detalhadas de sempre sobre o sistema H-ATLAS J142935.3-002836 que, apesar de muito ténue em imagens no visível, o que colocava o seu estudo no limite do possível, se encontra entre as galáxias ampliadas gravitacionalmente mais brilhantes detetadas até hoje no infravermelho longínquo.
Com recurso a uma campanha de observação intensa, que recorreu aos telescópios mais poderosos – quer em terra quer no espaço – incluindo o Telescópio Espacial Hubble da NASA/ESA, o ALMA, o Observatório Keck, o Karl Jansky Very Large Array (JVLA), os cientistas conseguiram combinar dados e alcançar o melhor conhecimento sobre a natureza deste objeto tão invulgar.
As imagens Hubble e Keck revelaram um detalhado anel de luz, induzido gravitacionalmente, em torno de uma galáxia de disco vista de perfil, a qual produz o efeito de lente, mas também obscurece parte da radiação devido à poeira que contém. Por seu lado, o ALMA e o JVLA desempenharam um papel fundamental na caraterização do objeto.
Em particular, o ALMA observou a radiação da molécula de monóxido de carbono, a qual permitiu fazer a medição do movimento do material no sistema de fundo, verificando-se assim que o objeto era realmente uma colisão galáctica a formar centenas de novas estrelas por ano.
Envolvimento português nos melhores telescópios do mundo
De acordo com o comunicado do CAAUL, pelo menos uma das galáxias em colisão mostra sinais de rotação, indicando de que se tratava de uma galáxia de disco antes do encontro, sendo que o sistema destas duas galáxias distantes em colisão se assemelha a uma colisão espetacular entre outras duas galáxias muito mais perto de nós: as Galáxias Antena.
Porém, enquanto o sistema Antena forma dezenas de novas estrelas por ano, o sistema H1429-0028 transforma 400 massas solares de gás em novas estrelas todos os anos.
“Este estudo revela o envolvimento português na exploração dos melhores telescópios do mundo”, considera José Afonso, diretor do CAAUL. “Mais especificamente, somos hoje reconhecidos internacionalmente como um Centro de Competências para o ALMA, e veremos nos próximos tempos mais resultados excitantes da nossa investigação com este revolucionário observatório”, conclui.
Clique AQUI para aceder ao estudo publicado na revista científica Astronomy & Astrophysics (em inglês).
Notícia sugerida por David Ferreira e Maria Pandina