O português David Sobral, do Instituto de Astrofísica e CIências do Espaço (IA), liderou uma equipa internacional de astrónomos na descoberta da galáxia mais brilhante do Universo. Chama-se CR7, nome inspirado em Cristiano Ronaldo.
O português David Sobral, do Instituto de Astrofísica e CIências do Espaço (IA), liderou uma equipa internacional de astrónomos na descoberta da galáxia mais brilhante já encontrada no Universo primitivo. Chama-se “CR7” e o seu nome foi inspirado em Cristiano Ronaldo, considerado por muitos a “estrela” mais brilhante do futebol nacional.
“Decidimos seguir um caminho totalmente diferente do resto do mundo e fizemos um mapeamento de grandes áreas do céu. Sabíamos que o risco de procurar onde ninguém procura seria facilmente compensado por descobertas inesperadas, algo importantíssimo em Ciência”, conta, em comunicado enviado ao Boas Notícias, David Sobral, também investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL).
De facto, o risco compensou: a equipa, que integrou ainda o português Sérgio Almeida, da FCUL, e vários investigadores das universidades da Califórnia (EUA), Genebra (Suíça) e Leiden (Holanda), acabou por descobrir várias galáxias “extremamente distantes e surpreendentemente brilhantes”.
Uma delas, a CR7 (cujo nome é também a abreviatura da medida de distância “COSMOS Redshift 7. Redshift”) , é, “de longe, a galáxia mais brilhante alguma vez observada no Universo primitivo”.
“Foi fantástico quando descobrimos a galáxia CR7”, confidencia David Sobral, considerando que, por si só, esta descoberta constituía já um enorme sucesso.
Os achados não se ficariam, porém, por ali: os cientistas encontraram, entretanto, algo ainda mais surpreendente: a primeira geração de estrelas do Universo, formadas a partir do material primordial do Big Bang. Há muito que os astrónomos previam a sua existência, mas, até ao momento, nenhuma outra busca tinha sido capaz de as detetar.
Investigadores descobriram também as primeiras estrelas
“Ao juntarmos as diferenças peças do 'puzzle', percebemos que tínhamos encontrado algo muito mais profundo e que estávamos a ver, pela primeira vez, um Santo Graal da astronomia: as primeiras estrelas”, recorda David Sobral.
De acordo com o investigador, foram essas primeiras estrelas -“extremamente brilhantes” e que “devem ter sido enormes (várias centenas ou mesmo milhares de vezes mais massivas que o Sol)” e tido um tempo de vida de apenas alguns milhões de anos – que “permitiram a nossa existência”.
“Depois de inúmeras observações e imenso trabalho, com um método diferente e planeado por nós, é fabuloso obter estes resultados tão importantes”, admite David Sobral.
A mesma opinião é partilhada por outro cientista português, Sérgio Santos, estudante do IA e da FCUL e coautor da descoberta. “Foi fantástico poder participar numa descoberta com esta relevância durante o meu projeto de investigação ainda como estudante de licenciatura”, assegura.
“É um privilégio poder trabalhar com uma equipa de tão grande qualidade e quero destacar o nível da investigação científica que se faz hoje em dia em Portugal capaz de rivalizar com qualquer outro país”, acrescenta o jovem investigador.
Para Jorryt Matthee, investigador do Observatório de Leiden e segundo autor do estudo, este foi, igualmente, um achado muito especial. “Sempre me perguntei de onde viemos e de onde vinha o cálcio dos nossos ossos, o carbono dos meus músculos, o ferro do meu sangue”, confidencia.
“Descobri, mais tarde, que foram as primeiras estrelas que os fabricaram, mas, até hoje, nunca tinham sido vistas, até as descobrirmos. Pela primeira vez, podemos começar a estudá-las no Universo real e não apenas teoricamente”, congratula-se Matthee.
Os astrónomos planeiam, agora, novas observações com os melhores telescópios do mundo, a que Portugal tem acesso, para estudar a galáxia CR7 em mais detalhe e, principalmente, para procurar e identificar outros exemplos destas galáxias nunca antes vistas.