Uma equipa de astrónomos europeus liderada pelo português Xavier Dumusque, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, acaba de anunciar a descoberta de um planeta com uma massa idêntica à da Terra que orbita uma estrela como o Sol.
Uma equipa de astrónomos europeus do Observatório Europeu do Sul (ESO) liderada pelo português Xavier Dumusque, do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, acaba de anunciar a descoberta de um planeta com uma massa idêntica à da Terra que orbita uma estrela semelhante ao Sol do sistema Alfa Centauri, o sistema estelar mais próximo do nosso planeta.
O planeta em questão, que é também o exoplaneta mais leve já encontrado em redor de uma estrela como o nosso Sol, foi detetado com a ajuda do instrumentro HARPS, montado no telescópio de 3,6 metros instalado no Observatório de La Silla, no Chile, e os resultados que dão conta da sua descoberta serão publicados esta quarta-feira na revista científica Nature.
Em comunicado, os cientistas do ESO explicam que o Alfa Centauro é o sistema estelar mais próximo do nosso sistema solar, localizando-se a apenas 4,3 anos-luz de distância. Trata-se de uma “estrela tripla”, sendo constituído por duas estrelas semelhantes ao Sol em órbita muito próxima uma da outra (Alfa Centauro A e B) e uma outra estrela vermelha, mais distante e ténue, a Proxima Centauro.
Planeta é “demasiado quente” para ter vida
Desde o século XIX que os astrónomos especulavam sobre a possibilidade da existência de planetas em órbita destes corpos, os mais próximos de nós, que poderiam albergar vida para além do sistema solar, mas só agora as buscas revelaram dados inéditos.
“As nossas observações, que se estendem ao longo de mais de quatro anos, obtidas com o HARPS, revelaram um sinal, minúsculo mas real, de um planeta que orbita a Alfa Centauro B a cada 3,2 dias”, desvenda o português Xavier Dumusque, autor principal do artigo científico que descreve os resultados, em comunicado. “É uma descoberta extraordinária que levou a nossa técnica ao limite”, acrescenta.
Segundo os astrónomos, a Alfa Centauro B é muito semelhante ao Sol, embora seja ligeiramente mais pequena e menos brilhante. Quanto ao planeta recentemente descoberto, possui uma massa um pouco maior que a da Terra e orbita a cerca de seis milhões de quilómetros da sua estrela, ou seja, a uma distância muito mais curta do que aquela a que Mercúrio se encontra do Sol no nosso sistema solar.
“A sua órbita encontra-se muito próxima da estrela e, portanto, o planeta deve ser demasiado quente para poder ter vida tal como a conhecemos”, alerta Stéphane Udry, do Observatório de Genebra, co-autor do artigo. “No entanto, este pode muito bem ser um planeta num sistema de vários”, sublinha o especialista.
“Um enorme passo em frente” nas investigações
O primeiro exoplaneta em órbita de uma estrela do tipo solar foi observado pela mesma equipa em 1995 e, desde então, foram já feitas mais de 800 descobertas confirmadas. Porém, a maioria dos planetas encontrados são maiores do que a Terra e localizam-se demasiado perto das estrelas.
O desafio atual dos astrónomos é descobrir e caraterizar um planeta com uma massa comparável à da Terra que orbite na zona habitável de uma outra estrela e o primeiro passo foi agora dado, defende Xavier Dumusque. “Este resultado representa um enorme passo em frente na deteção de um gémeo da Terra na vizinhança imediata do Sol. Estamos a viver momentos entusiasmantes!”, conclui.
[Notícia sugerida por Maria Manuela Mendes, Patrícia Guedes e Carla Neves]