Cumprindo uma diretiva europeia sobre veículos em fim de vida, as 420 mil toneladas de resíduos provenientes destes automóveis, considerados resíduos perigosos, foram sujeitas a reciclagem e os ácidos, óleos, chumbo e outros poluentes foram recolhidos, uma realidade que os ambientalistas aplaudem, sem deixar de apontar falhas no sistema.
Em seis anos, mudou a lei, que passou a impor que os centros de desmontagem e reciclagem tenham licença e contrato com a Valorcar, uma entidade privada cujo capital é maioritariamente detido pela Associação Automóvel de Portugal.
Ricardo Furtado, diretor da Valorcar, sublinha, em declarações à agência Lusa, que também o Estado “simplificou o processo de licenciamento” e introduziu o Imposto Único Automóvel, penalizando os proprietários que não cancelem a matrícula, que têm que continuar a pagar.
Incentivos ao abate
Além disso, os proprietários que entreguem os veículos com mais de dez e quinze anos a centros autorizados têm direito a descontos na compra do carro novo. Durante o ano de 2010, o valor do desconto é de ?750 caso se entregue um veículo com mais de 10 anos e de 1000? caso se entregue um veículo com mais de 15 anos.
Ricardo Furtado salienta que desde 2004, quando o Estado passou a intervir, o número de estabelecimentos licenciados aumentou “de quatro para 64” e a lógica do mercado deixou de ser “só a do lucro”.
“Mas há operadores ilegais no mercado, é assim que os carros desaparecem das estatísticas. A solução não será encerrar empresas, mas garantir que estas cumprem os requisitos”, defendeu.
O diretor da Valorcar acrescentou que “as pessoas acabaram por também se adaptar a uma nova realidade e, se antes abandonavam os carros na via pública por não terem alternativa, hoje podem andar meia dúzia de quilómetros até ao centro mais próximo e deixar lá o veículo de graça, com a garantia do cancelamento da matrícula e do registo”.
Portugal em 9º lugar da UE
Ricardo Furtado referiu que “o próprio Eurostat coloca Portugal em nono lugar entre os 27 na taxa de reciclagem de veículos”, indicando que, segundo a diretiva, a taxa de reciclagem de cada veículo deverá subir dos atuais 85 por cento para 95 por cento em 2015.
Através da reciclagem, vidros, metais, plásticos e todos os outros materiais e componentes de um automóvel podem ser reaproveitados para a indústria automóvel ou para qualquer outro setor, de acordo com as necessidades do mercado, explicou.
No dia 23 de setembro, responsáveis governamentais do ambiente, do setor da reciclagem e ambientalistas debateram os dez anos da diretiva comunitária no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
No debate participou a Ministra do Ambiente e do Ordenamento do Território, Dulce Álvaro Pássaro, que deu a conhecer o trabalho que está a ser feito em Portugal e que permitiu, nos últimos dez anos, a reciclagem e valorização de mais de 285 mil veículos.