Em todo o mundo existem cada vez mais produtos organismos geneticamente modificados (OGM) no mercado, um fato que preocupa os consumidores uma vez que ainda se desconhecem as suas implicações a longo prazo. O mercado português não é exceção, mas na sua maioria são cumpridores dos critérios definidos por lei. O mesmo não acontece na América do Sul onde muitos produtores usam (e abusam) desta técnica, sem salvaguardar a segurança alimentar.
As conclusões vêm da investigadora Alexandra Plácido, do ISEP, que analisou vários alimentos disponíveis no mercado português. A doutoranda também é responsável pela criação de um novo material para biossensores, capaz de analisar e identificar proteínas de OGMs em qualquer tipo de produto (sobretudo alimentos e plantas).
À frente do projeto GMOsensor está a coordenadora Cristina Delerue-Matos (ISEP), para quem a colaboração com equipas sul-americanas facilita o acesso a amostras de organismos geneticamente modificados (OGM) – enquanto que na Europa a circulação de produtos OGM é mais restrita (produtos OGM autorizados e com teor superior a 0,9% devem ser identificados no rótulo), no Brasil a soja é um dos alimentos transgénicos mais vendidos.
Esta iniciativa resulta da cooperação científica entre Portugal, Espanha, França, Brasil e Argentina. Durante os próximos dois anos vai mobilizar cerca de dez instituições e 43 cientistas, sendo um projeto financiado pela Comissão Europeia em 340 mil euros.
Como se descobrem transgénicos
Para fazer as análises, os investigadores inserem as amostras de OGM numa placa de vidro modificada com uma substância que contém elementos de índio e titânio (ITO). A placa, inserida no sensor, é formada por várias camadas de polímeros e peptídeos imobilizados com uma proteína usada em plantas para afastar insetos, chamada Cry1Ab16 (provenente da bactéria Bacillus thuringiensis).
Se uma amostra entrar em contato com a placa do biossensor, ocorre uma reação eletroquímica que permite verificar se as amostras contêm, ou não, organismos geneticamente modificados.
"Os filmes de ITO, que são bastante usados nos ecrãs de smartphones para permitir comandos pelo toque de mão, têm baixa resistência. Isso facilita a captação do sinal da amostra, tornando a leitura do sensor mais confiável", explica a pós-doutoranda Ana Carolina Mafud, do Grupo de Cristalografia do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), que também participa no projeto em conjunto com a professora Yvonne Mascarenhas, num comunicado do instituto.
"Estudamos essas camadas para analisar como elas estavam estruturadas, se era necessário aprimorar o produto, ou se algum dos filmes era responsável por alguma interferência no sensor", complementa Yvonne Mascarenhas.
Enquanto isso, a portuguesa Alexandra Plácido estudou um peptídeo derivado da Cry1Ab16, estudando a sua estrutura através da técnica de dicroísmo circular – com base num tipo de luz (polarizada), este método permite observar o comportamento de substâncias numa solução aquosa.
"A partir de todas as análises obtivemos informações que agora podem ser utilizadas para entender melhor o funcionamento da proteína", explica a professora.
Além do desenvolvimento do biossensor, os investigadores também estão a criar um segundo dispositivo que, no lugar da análise eletroquímica, pode verificar produtos transgénicos de forma óptica a partir da aplicação de outras técnicas.